* retirado do v- book de Claudio Tognolli "Balanceagas Torres e os Corações Pelludos", baixado gratuitamente em www.editoradobispo.com.br
"O bochorno de todos esses humores de ar, no bairro do meu coração, retirava o tempo do próprio tempo, de modo que uma frase, talvez dita por Wittgenstein (que horas são no sol?) seria aplicável, sem dúvida, nestas paragens de putridão: o tempo, sufocado por essa paisagem, certamente nunca existiu. No princípio do Veranico, lá pelos tantos de maio, grupos de ciganos assentavam barracas ao lado das pontes e alças que cruzavam o Rio Tietê. As cabanas eram de plástico azul, rasgadas pelo tempo, e seus cães, tornados cor de neve podre ou de um branco sublunar misturado ao barro. Esse ponto dos ciganos era aquele no qual estava espetado o telefone público pelo qual deveria acessar, nas horas mortas, o primeiro Balenciagas Torres que encontrei. O encontro, marcado exatamente no bairro onde eu nasci, era a minha forma de exercer um risco seguro."