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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Contador de Histórias

*texto enviado para concorrer ao Curso de Jornalismo da Editora Abril

"Quem sou eu e por que escolhi o jornalismo como profissão?"


A partir do momento em que me inscrevi para participar do Curso Abril de Jornalismo, cada uma das inúmeras vezes em que eu olhava para o computador e lia atentamente essa pergunta, tentava em vão encontrar uma forma simples e direta de responder a questão, até que cheguei à infeliz conclusão de que uma das minhas qualidades/falhas é não ser nem um pouco simples ou direto. E temo que acabei por gastar alguns dos meus preciosos caracteres em algo que não esclareceu coisa alguma sobre a questão propriamente dita.


Ainda assim, de alguma forma essa pergunta realmente me diz respeito: como cheguei a ser o que sou? Porque escolhi o jornalismo como meu estandarte pessoal para enfrentar o mundo? Inicialmente me senti incomodado por não encontrar uma resposta óbvia. Esse incômodo logo transformou-se em preocupação, que por sua vez metamorfoseou-se em uma dúvida cartesiana. Resolvi então buscar refúgio em minha memória, que esclarece em parte os motivos e os fatos que contribuíram para que eu chegasse até aqui.


Meu nome é Rafael Ceribelli Nechar, e minha história começou em meados de outubro de 2004, época em que - como mais um estudante do terceiro ano do Ensino Médio correndo contra o tempo do vestibular - tive que encarar pela primeira vez com seriedade a pergunta: “O que vou fazer pelo resto de minha vida?”. Independentemente do que os especialistas digam, qualquer que seja a resposta, ela é um fardo muito pesado para ser carregado por alguém cujo maior problema até aquele momento era a preocupação em como prevenir a acne.


Sempre fui um estudante mediano, e minhas notas nunca foram parâmetro para coisa alguma. Enquanto alguns amigos meus – estudando para entrar em cursos ‘sérios’, como Medicina - não ficavam satisfeitos com uma nota 9, eu pulava de alegria quando, vez ou outra, um 7,5 iluminava meu boletim escolar, especialmente quando essa nota extraordinária surgia em matérias como matemática e física – o que na presente situação poderia certamente ser considerado um milagre e prova incontestável da existência divina.


Mesmo estudando pouco, nunca fui um aluno ‘burro’. Sempre senti um gosto especial pela leitura, e aprendi desde cedo a trilhar o caminho pessoal e intransferível da literatura; lembro-me que desde pequeno sempre pedia livros no meu aniversário e no natal, e enquanto meus amigos brincavam com seus novos Power Rangers, eu preferia ler outra aventura do Tintin ou mais um mistério de Sherlock Holmes. Dessa forma aprendi desde cedo que as palavras podem nos levar à lugares extraordinários, e até hoje sinto como se eu próprio já tivesse experimentado a solidão de uma ilha deserta junto com Crusoé, ou empunhado a espada de Edmond Dantès e sentido na alma sua sede de vingança.


O gosto pela leitura me ajudou muito em minha caminhada pelas Ciências Humanas, e quando foi chegada a hora da fatídica decisão sobre o rumo de minha vida, optei por duas estradas distintas: escolhi prestar Jornalismo - por ser alguém apaixonado por histórias – e Filosofia – para tentar entender os homens e suas histórias, com um olhar para além do senso comum. Hoje, ao final desses dois cursos, sinto que não sou mais o mesmo garoto espinhento de épocas atrás, e tenho plena consciência de que – apesar das noites sem dormir, dos inúmeros ‘deadlines’ e dos textos em alemão de Heidegger – fiz a escolha correta.


Uma velha alegoria árabe retrata o contador de histórias como um homem solitário, em cima de uma pedra, bradando incessantemente seus contos para o mar. As águas, enfeitiçadas, escutam palavra por palavra. Se um dia o contador de histórias se calar, ninguém pode dizer o que fará o oceano.


Quem sou eu?


Eu sou um jornalista; um meio para um fim que ainda não vislumbro; sou um nômade; um sonhador; um contador de histórias. Um homem sozinho que, apesar de sua pequenez, cochicha insistentemente para tentar instigar um maremoto nesse infinito oceano de informações.

5 comentários:

Muri disse...

melhor texto ever

Vagner disse...

texto em alemao do Heidegger, rs rs lembrei da professora Lara,
abraço veio, o texto ficou muito bom....

Unknown disse...

dessa vez vc c supero hein.. vc deve t tomado muito tera pra conseguir inspiracao pra esse texto uasdhusda abraco kra

martim disse...

porra, um dia eu preciso me lembrar de porque eu quis fazer engenharia, acho que esqueci o motivo faz tempo!

genial a frase sobre deadlines!!!!

abraço ceriba!

Unknown disse...

adorei!