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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Nada elementar, meu caro Deleuze...





 "Um livro de Filosofia deve ser, por um lado, um tipo muito particular de romance policial e, por outro, uma espécie de ficção científica. Por romance policial, queremos dizer que os conceitos devem intervir, com uma zona de presença, para resolver uma situação local. Modificam-se os problemas. Têm esferas de influência que, como veremos, se exercem em relação a 'dramas' e por meio de uma certa 'crueldade'. Devem ter uma coerência entre si, mas tal coerência não deve vir deles. Devem receber sua coerência de outro lugar." (DELEUZE, Diferença e Repetição, p.17)




Diante da intrigante relação do Cinema com a natureza da Arte em Deleuze, e dada à perspectiva de que a obra deste filósofo é tão abrangente e complexa que parece que em certo ponto desdobra-se sobre si mesma, - feito um holograma que contém em suas partes o seu todo e vice-versa - faz-se importante uma constante releitura de Deleuze não apenas para desvendar o verdadeiro significado de suas afirmações filosóficas; para além disso, a filosofia deleuziana surge como sendo um dos exemplos do pensamento contemporâneo. Os antigos problemas confrontam-se agora com o novo homem, e a ruptura causada por esta colisão, que é profundamente estudada por Deleuze em seus textos, é única e intransferível – somos todos nós, homens modernos, resultado do incompreensível[1].
 

Nessa perspectiva, é fundamental para o estudo da filosofia na contemporaneidade – seja em Deleuze ou em qualquer outro autor – um aprofundamento que vislumbre a intrincada rede que surge com a complexidade do pensamento; precisamos aprender a navegar diante do dilúvio de informações, referências e teorias filosóficas, sem sermos arrastados pela ilusão de comodidade no canto das sereias de outrora. Acredito que Deleuze, ao auferir a algo moderno como o Cinema uma qualidade que o faz permear os problemas fundamentais de seu pensamento, nos deixa um exemplo do que é a verdadeira reflexão filosófica; um fruto histórico-temporal, que por essa mesma razão transforma-se em algo atemporal e humano. Uma obra sempre inacabada e, por esta mesma razão, sempre continuada...



1 - Acredito que o sentimento do homem moderno possa ser exemplificado com uma passagem de Dostoyevski: “Jamais consegui nada, nem mesmo me tornar malvado; não consegui ser belo, nem mau, nem canalha, nem herói, nem mesmo um inseto. E agora, termino a existência no meu cantinho, onde tento piedosamente me consolar, aliás, sem sucesso, dizendo-me que um homem inteligente não consegue nunca se tornar alguma coisa, e que só o imbecil triunfa.”


 

Um comentário:

Vagner disse...

eae cara blz?, entao a minha leitura de Deleuze sempre foi uma leitura "instrumentalizada", ou seja, procurava sempre aquilo que ele fala de Nietzsche e nada mais, por isso nao posso fazer algum comentario inteligente (isso nao quer dizer que o comentario que segue seja inteligente) sobre o que ele diz do cinema...
mas se me permite, gostaria de comentar a citaçao do Dostoyevski da nota de roda pè:
terminar "a existencia no meu cantinho" è tudo aquilo que peço na vida, talvez nao seja tao mal assim, ao contrario, talvez seja a nossa melhor e unica opçao... consolar-se com nossos pensamentos, convencer-se de que a nossa inteligencia, que a nossa filosofia, que a nossa existencia nada pode fazer para mudar essa grande realidade do mundo, essa realidade proclamada por ele: "sò o imbecil triunfa"
Termino invocando mais uma vez esse grande escritor:
"O fim dos fins, meus senhores: o melhor é nao fazer nada! O melhor é a inércia consciente!" (Memorias do subsolo)
se sò o imbecil triunfa, prefiro morrer no meu cantinho, inerte, consciente, sem triunfo...
abraço irmao,
saudades