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Na semana retrasada eu apresentei o trabalho 'Virtude e Verdade - A crítica ao iluminismo de J.J.R', e no meio desta semana tive um trabalho publicado pela 'Semana de Educação - Contrapontos' da UEL. Apesar de estar meio afastado da academia e em uma correria anti-produtiva (filosóficamente falando) é sempre bom voltar a ler o bom e velho Jean Jacques.
Abaixo um trecho do artigo publicado
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A NATUREZA COMO FONTE DA EDUCAÇÃO NEGATIVA EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU
“Não se pensa senão em conservar a criança; não basta; deve-se-lhe ensinar a conservar-se sendo homem, a suportar os golpes da sorte, a enfrentar a opulência e a miséria, a viver, se necessário, nos gelos da Islândia ou no rochedo escaldante do Malta (...) trata-se menos de impedi-la de morrer do que fazê-la viver. Viver não é respirar, é agir; é fazer uso de nossos órgãos, de nossos sentidos, de nossas faculdades, de todas as partes de nós mesmos que nos dão o sentimento de nossa existência. O homem que mais vive não é aquele que conta maior número de anos e sim o que mais sente a vida.” (ROUSSEAU, 1968, p.16)
A tarefa de exercer essa espécie de educação negativa[1] em meio ao turbilhão social é mais difícil do que aparenta, e Rousseau não subestima as dificuldades[2] que o aguardavam na criação desse homem da natureza denominado por ele de Emílio, mas ele tampouco se importa demasiadamente com essas questões. As objeções feitas pelos outros filósofos não passam de conjecturas vazias para Jean-Jacques: ele, por ser mais um observador da natureza do que um cientista; por se achar mais em busca de uma verdade do que da fama; por ser antes um homem do que um filósofo[3]; acredita encontrar-se em condições de se abster dos vãos exercícios de retórica sobre sua obra[4], e se satisfaz em ser honesto consigo mesmo, vislumbrando os resultados hipotéticos de sua educação[5].
“Ainda que os filósofos estivessem em condição de descobrir a verdade, qual entre eles teria interesse nela? Cada um deles sabe que seu sistema não é mais bem alicerçado que o dos outros, mas o sustenta porque é seu. Não há um só que, chegando a conhecer o verdadeiro e o falso, não prefira a mentira que encontrou à verdade descoberta por outro. Onde se encontra o filósofo que, por sua glória, não enganaria de bom grado o gênero humano? Onde se encontra o que, no segredo de seu coração, se proponha a outro objetivo senão o de se distinguir? Conquanto se eleve acima do vulgo, conquanto destrua seus concorrentes, que quer mais? O essencial está em pensar diferentemente dos outros. Entre os crentes ele é ateu, entre os ateus seria crente.” (ROUSSEAU, 1968, p.308)
[1] “Conhecido o principio, percebemos claramente o ponto em que abandonamos o caminho da natureza; vejamos o que é preciso fazer para nele nos mantermos” (ROUSSEAU, 1968, p.49)
[2] “Quanto mais insisto no meu método inativo, mais sinto as objeções se reforçarem. Se vosso aluno não aprender nada de vós, aprenderá dos outros. Se não prevenirdes o erro com a verdade, ele aprenderá mentiras; os preconceitos que temeis dar-lhe, ele os receberá de tudo o que o cerca, ele os terá através de todos os seus sentidos; ou corromperão sua razão, antes mesmo que esteja formada, ou seu espírito, entorpecido por uma longa inatividade, se absorverá na matéria. A falta de hábito de pensar na infância tira a faculdade de fazê-lo durante o resto da vida.” (ROUSSEAU, 1968, p.111)
[3] "Note, afinal, que eu sou sempre o monstro que sustenta ser o homem naturalmente bom, enquanto meus adversários são sempre as pessoas de bem que, para a edificação pública, esforçam-se por provar que a natureza só deu origem a celerados" (ROUSSEAU, 1999, p. 163)
[4]O discurso de Rousseau sobre as críticas de sua obra pelos filósofos da época não mudam até o final de sua vida, como podemos perceber em um de seus últimos escritos: “É assim que, raciocinando comigo mesmo, consegui não mais me deixar abalar em meus princípios por argumentos capciosos, por objeções insolúveis e por dificuldades que ultrapassavam meu alcance e talvez o do espírito humano. O meu, permanecendo na mais sólida situação que lhe pudera dar, acostumou-se tão bem a nela descansar ao abrigo de minha consciência, que nenhuma doutrina estranha, antiga ou nova, pode mais comovê-lo nem perturbar por um instante, meu repouso. Tendo caído na apatia e no entorpecimento do espírito, esqueci até mesmo os raciocínios sobre os quais baseava minha crença e meus princípios, mas nunca esquecerei as conclusões que dela tirei com a aprovação de minha consciência e de minha razão e a isso me atenho doravante.” (ROUSSEAU, 1995, p.50)
[5] “Sei que, obstinando-se a só imaginar o que vêem, encararão o jovem que apresento como um ser imaginário, de fantasia, porque difere daqueles a que o comparam; sem pensarem que é preciso mesmo que difira, porquanto, educado diferentemente, com sentimentos contrários aos dos outros, instruído de outra maneira, seria muito mais surpreendente que a eles se assemelhasse do que ser como o suponho. Não é o homem do homem, é o homem da natureza.” (ROUSSEAU, 1968, p.289)
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