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sábado, 8 de outubro de 2011

Under Northern White Lights

Assisti hoje o documentário/road-movie do White Stripes "Under Northern White Lights" e achei bem legal, a ideia do filme do ex-duo (a dupla acabou em abril deste ano) era o de fazer vários shows em partes pouco conhecidas do Canadá, com algumas entrevistas no meio de tudo. Recortei e legendei duas partes que achei as mais interessantes, e que são, realmente, inspiradoras.

Elas resumem o estilo inovador de trabalho do Jack White, que com sua guitarra dissonante - ainda que o W.S. tenha acabado - ainda surpreende o mundo com composições que levam uma grande honestidade musical. Vale a pena.


*dica - clique duas vezes no vídeo que ele fica Fullscreen e não cortado. A formatação do blogger é bem ruim, mas estou migrando daqui a pouco para outro formato. abraços!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sexo e Sangue



Ok, já começo admitindo, eu assisto Tru Blood.

Ok, eu também admito (envergonhado) que acompanhei os dois filmes babacas do 'Crepúsculo'.

Este post não tem nada a ver com isso. Quer dizer, mais ou menos. Eu estou lendo um livro que chegou para mim lá na Folha, chamado "Antologia do Vampiro Literário", que é um compêndio de todas as vezes que a emblemática figura deste morto-vivo sanguinário aparece na literatura. O livro é muito legal, e faz uma pesquisa que começa a partir no séc. XVII, quando relatos pertubadores eram feitos em algumas regiões do Leste Europeu (onde, não coincidentemente, está localizada a Transilvânia, lendária moradia do Conde Drácula)

Ainda mais fascinante do que propriamente o debate sobre a existência ou a não-existência dessas criaturas é perceber que, nas cartas escritas por oficiais militares e cientistas ´esclarecidos´, existe um verdadeiro embate racional/emocional correndo pelas entrelinhas. É como se, em territórios mal-assombrados, os homens educados fossem tomados subitamente de um medo do desconhecido, do inevitável, da tragédia que sua limitada ciência não compreende e para qual o método racional perde toda sua utilidade..

Talvez, o renascimento do vampiro (e de outras criaturas sobrenaturais) na cultura popular aponte características exclusivas de determinadas épocas. Porque em pleno séc. XVIII, no berço das luzes, do Aufklärung, em que a humanidade louvava a ciência e ficava impressionada com a sua própria racionalidade, a figura mística do vampiro começou a fazer parte do senso comum? Expressando um paradoxo, quase 300 anos depois, estamos finalmente cegos por nossas próprias luzes científicas, vivendo em um mundo hipócrita, conectados, sempre trabalhando, e plenamente satisfeitos com nossa masturbação metodológica, racional, fria, lógica, desumana. Fascinado pelas luzes da caverna, quase esquecemos que precisamos de escuridão; precisamos - como a coruja da Filosofia - sobrevoar o desconhecido no silêncio, enquanto todos os outros animais dormem tranquilamente.

O vampiro não representa apenas nosso reflexo oculto, nosso fascínio pela morte e pelo lado negro da alma. Ele representa tudo aquilo que negamos em nós mesmos, todos os instintos primários que tentamos, inutilmente, asfixiar com padrões e comportamentos socialmente aceitáveis, o ódio e os pecados que deixamos para trás, junto com parte de nossa humanidade.

Parece que os monstros, afinal, tem muito o que nos ensinar.

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*abaixo alguns trechos da Antologia do Vampiro Literário
"Eis o que se lê nas cartas Judias, de 1738;

Acaba de ocorrer nessas paragens (Hungria), uma cena de Vampirismo devidamente comprovada por dois oficiais do Tribunal de Belgrado, que estiveram no local, e por um Oficial das Tropas do Imperador, testemunha ocular dos procedimentos. No início de setembro morreu, na vila de Kisinova, um velho de sessenta e dois anos, depois de três dias de ser enterrado, ele apareceu novamente para seu filho, pedindo algo para comer. Ele comeu e depois desapareceu. No outro dia, o filho reportou o caso para o Oficial Imperial.

Na noite seguinte, o filho e outros cinco habitantes da pequena vila amanheceram mortos. O Oficial Imperial, sabendo das circunstâncias, mandou abrir todos os túmulos daqueles que haviam morrido na última semana; quando chegaram ao Velho, encontraram-no de olhos abertos e vermelhos, respirando naturalmente mas, ao mesmo tempo, imóvel como um morto. O Carrasco lhe enfiou uma estaca no coração, e nesse momento o cadáver soltou um grito lancinante, jorrou sangue e finalmente morreu.

Graças a Deus, não acreditamos em nada disso. Admitimos, porém, que todas as Luzes da Física que possamos lançar sobre esse fato são incapazes de nos revelar algo de suas possíveis causas. Todavia, não podemos refutar como verossímil um fato comprovado juridicamente, e por autoridades confiáveis.

Relato extraído  da carta Magia Posthuma, de 1706, destinada ao Principe Carlos de Lorena;

Uma mulher, em um certo vilarejo, foi enterrada como de costume. Quatro dias após seu falecimento, os habitantes da vila ouviram um grande ruído e um tumulto extraordinário, e viram um Espectro que aparecia, ora em forma de homem, ora em forma de cão, para diversas pessoas, causando-lhes grandes males ao sufocá-los e despedaçar os seus corpos.

Diversos exemplos de aparições como esta são relatadas. Um pastor morto no vilarejo de Blow, perto da cidade de Kadan, na Boêmia, apareceu durante certo tempo chamando o nome de pessoas, pessoas essas que infalivelmente caiam mortas sete dias depois. Os camponeses desenterraram o corpo desse pastor e o prenderam à terra, atravessando-o com uma estaca. Mesmo nesse estado, o homem zombava daqueles que lhe transpassavam, quebrando a estaca e agradecendo a bondosa caridade de um bastão para proteger-se dos cães. Ele sufocou várias pessoas nesse momento, até que o atearam fogo. O cadáver então urrava como furioso, remexia os pés e as mãos, deu gritos altíssimos e soltou sangue em grande quantidade, até finalmente transformar-se em cinzas."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

The Heming Way


Texto escrito por Marty Beckerman para a revista Wired.
traduzido por Ceriblog
Se Ernest Hemingway não tivesse cometido suicídio há 50 anos atrás, ele provavelmente estaria morto hoje de qualquer forma (nenhum fígado poderia aguentar mais de um século de abuso alcóolico. Nem mesmo o do 'Papa')
Mas se a Newsweek pode fantasiar com a princesa Daiana escapando da morte, então podemos imaginar como seria se Hemingway andasse - ou tropeçasse - entre nós em 2011. O que o escritor beberrão e aventureiro pensaria do nosso estilo de vida moderno?
Não muita coisa. Nós somos obcecados em conquistar o mundo digital - acumular seguidores no Twitter, amigos no Facebook, recomendações no LinkedIn - e Hemingway conquistou o mundo real. A emoção de um retweet de Roger Ebert ou Ashton Kutchner nunca vai se comparar com a adrenalina de correr com touros selvagens ou batalhar contra tubarões vorazes no meio do oceano para tentar recuperar um peixe de prêmio. 
Até a luta, o esporte mais sangrento e antigo de todos, logo vai acabar, e dentro de pouco tempo vai se transformar em uma simulação orquestrada por um joystick, com um guerreiro de cada lado do mundo entrando no campo de batalha virtualmente, tudo isso graças à nossa crescente busca por construir andróides para fazer nosso trabalho sujo. - Apenas outro videogame, a metáfora perfeita de nosso tempo.- Mas atacar com o controle do Nintendo Wii não é nenhum substituto para enfiar uma baioneta nas entranhas de um soldado das forças armadas leais à Franco. - na verdade, isso hoje é fácil de fazer, porque esses soldados já estão mortos há, mais ou menos, 100 anos.
Da mesma maneira, usar um GPS não substitui a exploração em campo aberto. Porque 'visitar' a África selvagem com o Google Earth não é o mesmo do que caçar ao vivo aquelas magníficas criaturas de carne e osso.
O ex-senador republicano Anthony Werner, que estragou seu casamento ao mandar algumas fotos digitais safadas para diversas mulheres, epitomiza essa masculinização contemporânea eletrônica. Hemingway era um grande fã em estragar casamentos - ele mesmo se divorciou três vezes - mas ele tinha culhão para REALMENTE trair suas mulheres, não apenas emocionalmente ou virtualmente (na verdade, ele tinha apenas uma única emoção, que era a sede de sangue nas suas caçadas pelas savanas da África) 
Nós precisamos deixar de lado nossos tablets e smartphones, e voltar a desafiar a Mãe Natureza à nos matar pela nossa ambição e arrogância, seja caçando um leão faminto ou subindo o Kilimanjaro. Zerar o Angry Birds ou plantar cenouras no Farmville não é a maneira certa de sentir realmente o gosto de nossa humanidade.
Você não iria preferir aprender sobre as coisas da vida através da aventura (e de desafortunadas viagens comendo miojo) do que através da Wikipédia?
Tecnologia não é de toda ruim; é apenas um problema quando os atalhos fáceis e distrações viciantes nos transformam em seres preguiçosos, incompetentes e incapazes de saber a diferença entre "você é", "vc é" e "vé, véi?". Hemingway aconselhou os romancistas: "escrevam bêbados, editem sóbrios", hoje, no Facebook, todos escrevem bêbados e não editam nada.
"O medo da morte aumenta na proporção exata do aumento da riqueza", Hemingway disse uma vez. Hoje, muitos de nós nos tornamos ricos na moeda da 'covardia'. Nós temos tantas coisas e tão poucas experiências. Nós estamos desesperados para viver o maior tempo possível, e não o melhor possível. Estamos com tanto medo de dizer 'adeus' à esse mundo, sendo que ainda não dissemos nem 'olá'.
Nós estamos debilitados pela nossa alta-definição, aparelhos Wi-Fi, gananciosos por possuir cada vez mais objetos sem valor - o melhor, o mais rápido, o mais brilhante gadget - ao invés de viver a nossa vida de cada dia, com o maior prazer possível. 
Se Hemingway não tivesse se matado por desespero em 1961, ele se mataria em 2011, por desgosto.
- – -

sábado, 25 de junho de 2011

I´m Outta Time

Eu não conseguia dormir e essa maldita música ficava ressoando na cabeça. Tive que exorcizar ela de algum jeito (o tom sépia não foi intencional, alguém mexeu na minha câmera e só fui notar depois)


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Whatever Works



Estou trabalhando em uma edição de vídeo em que tive que ver essa introdução - sem exagero - umas...cinco mil e trinta e duas vezes.

Ok, esse número foi um exagero, mas só quem trabalha com as peculiaridades de um Adobe Premiere CS5 instalado em um Win7 (x64) e precisa tratar um vídeo com um codec Aac3 consegue entender o que eu estou falando. Em resumo: Apple, te amo.

Mesmo assim, foi divertido ver essa introdução várias e várias vezes; Woody Allen é um ranzinza extraordinário, vale a pena. Então aproveitei a edição para legendar e postar em português o vídeo no YT.

abraços!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Abyssimus



A meia luz do pequeno quarto dela me revelava um cenário familiar e atraente. Deitada na cama, semi nua e coberta apenas com um fino lençol de seda, a visão de seu corpo era espetacular. Ela se espreguiçava, lentamente, com cabelos quase loiros espalhados pelos ombros.

Abriu os olhos, devagar. Aqueles olhos, por vezes cinzas e por vezes cor de mel. Olhos que já quebraram tantos corações, inclusive o meu. Mas não se atente aos lamentos deste pobre narrador - ele agora é apenas uma brisa, um fantasma que se pendura no ventilador deste pequeno quarto, dentro de um pequeno apartamento, localizado nos Alpes suiços e no sul da Espanha ou, quem sabe...aqui?

É uma estranha sensação sentir-se onipresente. Eu ouvia os suspiros daquela garota desconhecida, examinava cada centímetro de seu corpo, sentia os pequenos cabelos da sua nuca arrepiarem, em ritmo lento, dançando como em uma valsa improvisada. Com um pouco mais de esforço, eu era capaz de ouvir até os seus pensamentos sussurados, distantes - com cada suspiro, ela tragava toda minha alma. As batidas do seu peito fariam Rachmaninoff se curvar humildemente, desistir de tocar o piano e acabar sua vida como vendedor de shashlik em alguma estação de trem em Moscou.

Em um momento como este é que somos levados a perceber o quanto os nossos sentidos, toda nossa ínfima racionalidade - e, ademais, tudo aquilo que assumimos como constituinte de nossa essência - são apenas as grades de uma jaula imunda que chamamos de vida. A realidade é que todo o gênero humano não passa de uma gota perdida em um oceano infinito; cada explosão cósmica é uma espécie de furacão passageiro, que surge dentro de uma mesma corrente de ar; tudo o que conhecemos são apenas notas dissonantes tocadas dentro de uma sinfonia silenciosa, eterna, etérea

Mas...aquele olhar.... ele... ele era a única coisa que me fazia sentir algo. Como uma lâmina retorcendo dentro de entranhas invisíveis, a força daqueles olhos puxavam o meu ser de volta para um resquício animal, selvagem, efêmero e impotente. Eu amava aquela mulher.

Isabella espreguiçou-se esticando as pernas, devagar, e suas mãos permaneciam pousadas como plumas brancas sobre os seus lindos seios que, belos e perfeitos, eram justificativas ideais para qualquer ato desmedido, epopéia continental ou guerra sangrenta. O seu cheiro era inebriante como a própria síntese da primavera, e seus doces lábios exalavam um elixir inesquecível - os religiosos que fiquem explorando, em vão, inúteis livros empoeirados, vivendo e morrendo trancafiados dentro de túmulos arquitetônicos - o verdadeiro templo e a verdadeira Deusa estavam ali, bocejando graciosamente, espalhados por entre os lençois macios daquela fatídica manhã.

Bella, imortalizada em seus vinte e poucos anos, levantou-se e abriu as cortinas, esperando ver entrar a claridade do dia que raiava ao longe. Mas não foi isso que ela viu.

Poseídon afogou Ulisses.
Minotauro dilacerou os ossos de Teseu
O abismo olhou de volta.

"É o fim", ela pensou, preocupada.
É o fim.

domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa Caótica



Eu estava inclinado a escrever um post aqui sobre a minha imensa, gigantesca, fenomenal preguiça de encarar mais uma segunda-feira de trabalho exaustivo mas - depois de uma overdose de bacalhau, chocolate, feijoada, e uma maratona alcóolica que se estende desde a quinta feira - eu tive um insight e pensei com meus botões: "opa, escrever isso está dando trabalho!" decidi com sabedoria parar de querer fazer alguma coisa e, ao invés de postar algum texto mal-humorado sobre a miséria que a humanidade se enfiou quando teve a brilhante idéia de inventar o despertador, resolvi citar um dos textos mais .... mais.... interessantes (?) que eu li nos últimos tempos: o trecho abaixo é de uma obra chamada "Principia Discordia", e que serve para divulgar os preceitos, inpreceitos e não-preceitos do Discordianismo. 

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"Se a religião organizada é o ópio das massas, então a religião desorganizada é a maconha do limite lunático.

Como a religião mais desorganizada de todos os tempos, o Discordianismo entende que a ordem é obra do Diabo. O Santo Caos é a condição natural da realidade, ao contrário do que acredita a maioria da população. Teólogos citam a "ordem" na condição de que ela é prova de uma Suprema Inteligência, mas uma espiada é o suficiente para perceber que as estrelas do universo não estão exatamente enfileiradas e bonitinhas. A teologia é apenas um debate para apontar o culpado de criar nossa realidade, e o que nós imaginamos como "ordem" é apenas a forma que se apresenta em frente aos nossos olhos o imenso caos.

A cada alguns milhares de anos algum pastor inala fumaça de uma moita queimada e tem uma visão, ou come um pão bolorento em uma caverna e afirma que viu Deus; depois disso ele aglomera uma porção de seguidores que matam uns ao outros pela menor das provocações. Casas assombradas chamadas de "templos" são construídas por um lado e destruídas pelo outro - e assim continuam todas as lutas religiosas que nós conhecemos.

As religiões organizadas pregam ordem e amor mas apenas espalham caos e fúria. Por quê? 

Porque todo o Universo Material é propriedade exclusiva da deusa grego-romana do caos, confusão, brigas, e etc. Nenhum poder espiritual ou material é capaz de desviar das rodas dilacerantes de sua carruagem. Tudo isto foi revelado para mim com a ajuda da "pedra caótica", que liberou a percepção de minha glândula pineal, e desde então eu sou capaz de responder todos os mistérios da metafísica, metamística, metamorfologia, metanóia e metafóricas. 

Você também é capaz de ativar sua glândula pineal de uma forma simples: recite o conteúdo inteiro deste livro depois que acordar toda manhã, esfregue areia entre os olhos todas as tardes, bata a sua cabeça contra o chão cinco vezes por dia, evite matar as inocentes baratas e medite (ou seja, não faça nada e fique de olhos fechados esperando por boa sorte)

Aderir ao Discordianismo vai resolver todos os seus problemas e o Caos vai atender você para resolver todos os seus problemas; Nas páginas dessa magnífica obra você vai aprender a converter infiéis e irritar heréticos. Você também vai ser capaz de resolver charadas-zen do tipo: se Jesus era judeu, então porque motivo ele tem o nome de um porto-riquenho?

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Aleluia.

quinta-feira, 31 de março de 2011

...



“Considerai primeiramente que, querendo formar um homem da natureza, nem por isso se trata de fazer dele um selvagem, de jogá-lo no fundo da floresta; mas que, entregue ao turbilhão social, basta que não se deixe arrastar pelas paixões nem pelas opiniões dos homens; que veja com seus olhos, que sinta com seu coração; que nenhuma autoridade o governe a não ser sua própria razão. Nesta posição, é claro que a multidão de objetos que o impressionam, os freqüentes sentimentos que o afetam, os diversos meios de prover a suas necessidades reais, devem dar-lhe muitas idéias que nunca houvera tido ou que houvera adquirido lentamente. O progresso natural do espírito é acelerado, nunca invertido. O mesmo homem que deve permanecer estúpido nas florestas deve tornar-se racional nas cidades, ainda que nelas seja simples espectador. (...) 

OH! virtude, ciência sublime dessas almas simples, serão necessários, então, tanta pena e tanto aparato para conhecer-te? Teus princípios não estão gravados em todos os corações? E não bastará, para aprender suas leis, voltar-se sobre si mesmo e ouvir a voz da consciência no silêncio das paixões? Aí está a verdadeira filosofia; saibamos contertarmo-nos com ela e, sem invejar a glória desses homens célebres que se imortalizam na república das letras, esforcemo-nos para estabelecer, entre eles e nós, essa gloriosa distinção que outrora se conhecia entre dois grandes povos: um sabia dizer bem e o outro obrar bem." 

*Jean Jacques Rousseau

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dude, we´re LOST!



Eu respirei fundo depois de escrever a matéria, publicada na Folha (confira aqui), sobre a estréia da última temporada de LOST na Globo. Eu não gostei do final da série, e sabia que a crítica ia causar uma certa repercussão. Para minha surpresa, foram mais palavras positivas de "é isso mesmo, foi zoado o final" e "ainda bem que eu parei de assistir na terceira temporada" do que críticas de fãs nervosos. Lógico que houve quem discordasse, e é bacana isso, eu apóio as discussões sobre séries, mas um email que eu recebi me chamou particularmente a atenção.

Uma leitora (vamos chamá-la de, sei lá, Kate) indicou que todas os mistérios da série tinham sido solucionados, e eu que havia comido 'barriga' para não ver isso. Ou seja, em algum lugar dentro dos extras da sexta temporada e dos últimos episódios da série todos os mistérios (sim, TODOS) tinham sido solucionados. No final do e-mail, ela me chamou de um idiota incompetente.

Tudo bem me chamar de idiota - eu não discordo, sou meio idiota - mas fiquei encucado com essa de não ter 'sacado' o que havia acontecido na ilha. Eu não ia me perdoar se houvesse perdido algum mistério nessa série desgraçada. 

Então fui eu lá, assistir os últimos 3 capítulos, entrar na LostPedia denovo, assistir novamente os extras de 12 minutos chamado "The Man In Charge" e no final dessa maratona não encontrei absolutamente nenhuma respostinha, nem uma simples dica do que diabos havia acontecido naquela ilha do capeta. 

Depois disso eu, calmamente, me dirigi até o computador e redigi uma resposta para a leitora. 
Ele está abaixo:


Para: ***************@hotmail.com

Prezada Kate

Quando eu coloquei o ponto final na matéria "Era uma ilha muito engraçada...", já imaginava que pudessem haver reações; eu próprio me considero - apesar de todos os pesares - um fã de Lost, e acredito que a série realmente mereça o status que atingiu. Foi revolucionária, apesar de quase se estragar no final. Mas essa é uma opinião.

Acredito que o jornalismo cultural, acima de todos os outros, qualifica-se especialmente por essa diversidade que surge de uma discussão nada parcial. A arte é, fundamentalmente, causadora de conflitos: como dissecar 'racionalmente' um produto que é feito, grosso modo, para te emocionar em algum nível subjetivo? No fundo, a crítica da arte sempre vai esbarrar na pura opinião.

Eu acompanhei todos os episódios de Lost, e admito que fiquei incodicionalmente viciado por aquilo. Contava os dias para chegar um novo episódio que me revelasse um novo flashback cinematográfico feito para descascar (como uma cebola) a personalidade dos sobreviventes. Eu adorava a série. Para mim, J.J. Abrams (que também dirigiu Cloverfield e Missão Impossível 3) é um dos melhores nomes da nova geração de cineastas.

Mas, em algum momento, entre a temporada 4 e 5, o seriado abriu mão da sua maior força - a profundidade dos seus personagens - para embarcar em uma mitologia fraquinha e maniqueísta: o bem contra o mal. A fumaça contra o Jacob. O cara de preto contra o de branco. Esse foi o começo do fim daquela série que eu gostava tanto.

No seu email, você escreveu que as respostas para a série estão nos extras da última temporada. Primeiramente, esta é uma estratégia muito utilizada pelos produtores de grandes séries (ou filmes) que não sabem como encerrar a história. Eles lançam o produto no mercado, observam a reação do público - que, em Lost, foi extremamente negativa (vide artigo do L.A. Times http://articles.latimes.com/2010/may/24/entertainment/la-et-lost-review-20100524 ou do NineNewshttp://news.ninemsn.com.au/entertainment/1057102/fans-slam-lost-finale-as-worst-ever ) e tentam 'remendar' ele depois, com extras e material inédito. Isso é meio praxe em Hollywood.

Em segundo lugar, os extras do box, o mini-episodio de 12 minutos intitulado "The Man in Charge", apenas arranha as questões da série - meio que resolve o urso polar e ressuscita a importancia do Walt em 'voltar para a ilha', mas nenhuma resposta é oferecida. - Lógico que daí sobra espaço em foruns de discussão e pano para manga para anos e anos de teorias, mesmo assim, oficialmente, no Lost nada é resolvido. - voce já deve conhecer o site lostpedia.com, se não, é ótimo, vale a pena dar uma conferida.

Mesmo assim, teve muita gente que adorou o final da série. Eu lembro que sempre entrava nessa discussão com um grande amigo meu, que fez pós em Cinema comigo. Ele dizia: "cara, não importa as respostas para os números e para Dharma. Tudo no Lost é baseado na redenção dos coitados da ilha", eu não concordava, mas respeitava imensamente a opinião dele de engolir esse sapo gigante e aceitar isso de 'ilha da redenção'.

Enfim, eu também me emocionei com Lost. Acompanhei todas as temporadas. E fiquei extremamente decepcionado o o final 'fácil' que os autores escolheram. Você já deve ter percebido, pelo tamanho do email, que eu adoro discutir sobre séries, especialmente séries tão boas quanto essa.

Sobre a outra parte do seu email, em que você julga minha competência como profissional, vou apenas relevar esses comentários e assumir que você estava genuinamente ofendida com um cara qualquer descendo a lenha na sua série preferida. Eu entendo isso, mas posso te garantir que minha competência como jornalista, estudioso de filosofia e de direção cinematográfica, me habilita a discutir em um nível bacana sobre esses assuntos. Na Folha eu tenho uma liberdade editorial fantástica para falar com os leitores sobre isso, e na maioria das vezes - não no seu caso - eles gostam das resenhas.

Eu peço desculpas se te ofendi de qualquer outra maneira, e fico feliz com sua crítica, porquê o tema de uma série legal como Lost deve ser sempre discutido mesmo. Sinta-se a vontade para me enviar quaisquer outras críticas e/ou sugestões. Mas sem fanatismo - futebol e religião não se discute.

Att.
Rafael Ceribelli - Folha2
rafael_ceribelli@hotmail.com / folha2@folhadelondrina.com.br
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abraços!


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Olhos Azuis



Todo domingo, se eu consigo salvar o meu jornal das ferozes mandíbulas da pepa (meu rotweiller) eu gosto de folhear as páginas da Folha de S. Paulo - se normalmente a linha editorial já é bacana e recheada de informação, a edição de domingo sempre é acima da média.

Eu geralmente guardo o encarte da "Ilustríssima" para ler durante a semana, e hoje achei uma matéria muito legal sobre a fase romântica do Marx. Eu nem sabia que isso existia, mas parece que, antes do autor escrever "O Capital" e ficar famoso nos panelaços da galera de ciências sociais do CCH, ele escreveu alguns pedaços de um 'quase romance', e desistiu no meio. Vou transcrever abaixo o cap. XIX, que me chamou mais a atenção:

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"Mas ela tinha grandes olhos azuis, e olhos azuis são comuns como as águas do rio Spree.

Desses olhos irrompe uma tola e saudosa inocência, uma inocência que lamenta a si mesma, uma inocência aquosa; quando o fogo se aproxima, ela ascende em um vapor azulado. Os olhos castanhos, contudo, são um reino ideal; um infinito e gracioso universo noturno ali dormia, eles expelem raios d´alma, soam como as canções de Mignon, como a terna, cálida, e longínqua terra habitada por um próspero deus que se banqueteia de sua própria profundidade e se funda no universo de sua existência, irradiando a infinitude e padecendo da infinitude. 

Sentimo-nos paralisados por um encanto, e desejamos apertar em nosso peito o melodioso, profundo, inspirado ser; sugar o espírito de teus olhos e fazer canções a partir de seus olhares. 

Amamos o mundo rico e agitado do que se nos abre; em seu poscêncio enxergamos gigantescos pensamentos solares, supomos a existência de um sofrimento demoníaco; e figuras que se movem delicadamente encenam uma dança diante de nós, acenam em nossa direção e retrocedem envergonhadas, como as Graças, assim que as reconhecemos."

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Mais uma vez eu penso comigo mesmo que, talvez, Marx não seja tanto assim um chute no saco e que, se não existissem os gritos incoerentes dos pastores 'marxistas', eu até tentaria ler mais coisas dele.

abraços!



domingo, 23 de janeiro de 2011

O Ataque dos Bundóides

Semana passada fiz uma matéria para a Folha de Londrina sobre o cartunista londrinense Fí, que publica seus quadrinhos na revista MAD.

A arte do cara é muito bacana, e abaixo está um exemplo de sua zine "Ânsia na Goela" (clique na imagem para aumentar)

para mais informações sobre o Fí no blog http://falafi.blogspot.com/

abraços!

domingo, 2 de janeiro de 2011

2011 no molho madeira



2011! Uhul! É bom estar de volta!

Mesmo não dando tempo para atualizar tão constantemente isso aqui - com textos 'bloggísticos' da mais duvidosa qualidade - eu espero que exista alguma pobre alma, do outro lado do abismo, que ainda leia o CeribloG e que ainda se divirta com essa pobre bagaça de Blogger, tão desvalorizada nessa época twitteira.

Pelo bem ou pelo mal, isso aqui tem quase 3 anos de existência, e isso faz do blog quase que um símbolo da resistência Oldscholl nessas terras virtuais sem-lei, onde já vimos o nascimento e morte virtual do Mirc, icq, fotolog, orkut e tantas outras coisas que um dia eu preenchi com textos inúteis, letras de música e humor negro.

Eu tive a idéia de fazer este blog para usar como um arquivo, e guardar na internet todos os textos que eu produzi na filosofia e no jornalismo mas, pouco a pouco, eu tomei gosto pela coisa, e volta e meia eu estava aqui, depois de uma noite bêbada e/ou entediante - não mutuamente excludentes - escrevendo.

O mundo girou, e mesmo que por dentro eu continue sendo um vagabundo e usando calças de skatista, eu agora trabalho igual um cão; tenho hora para dormir e acordar; como frutas e verduras e gosto de, simplesmente, não fazer nada o máximo possível. Aqui fala o cara que está blogando no IPad, tomando tereré, ouvindo uma radio do norte da Calábria e olhando de relance o último capítulo do family guy - aproveitar no limite a grandiosidade de não fazer porra nenhuma é um objetivo nobre e difícil nos tempos de hoje.

Eu desejo para todos vocês, os leitores anônimos neste ano pré-apocalíptico, exatamente isso: aproveitem seus momentos de vagabundagem, empinem pipas, joguem xadrez, escutem a nova música instrumental de 17 minutos do Thom Yorke com os pés dentro de uma piscina e, se ficarem sem nada - NADA MESMO - para fazer, visitem o blog e vejam se eu tive algum tempo de não-tempo e atualizei isso aqui. É sempre um prazer terapêutico para mim conversar com vocês.

Para finalizar, deixo aqui o discurso inspirador do meu amigo Jansen Borowski, falando sobre a vida, o universo e todo o resto em seu discurso de formatura na USP.

Peguem seus carrinhos de supermercado e boa-sorte.

Abraços e Feliz 2011!