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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Ócio Criativo


Entrevista para ser lida quando não tiver o que fazer hehe


*adaptado de vários trechos de entrevistas de Domenico Di Masi

Você já imaginou fazer apenas o que gosta a vida inteira? Mas e daí, viveria do quê? Sonhos? Se imaginarmos o trabalho como um fardo, a situação realmente parece impossível. Mas e se o trabalho, o lazer e o estudo começassem a se misturar em nossas vidas de tal forma que não desse mais para diferenciar uma coisa da outra?

Esta é a proposta de Domenico de Masi, sociólogo italiano da Universidade La Sapienza, de Roma, e presidente da Escola de Especialização em Ciências Organizativas, a S3 Studium. Ele defende a idéia que é chegado o momento de cultivarmos o ócio criativo para uma nova era. Utopia? Não. Cada vez mais pessoas e empresas aderem aos seus conceitos e passam a ter vidas mais felizes e produtivas.

O senhor abandonou a carreira de executivo para se tornar professor e escritor. Como foi essa mudança?

Eu deixei de trabalhar em empresa por dois motivos. Primeiro, porque toda empresa tem um chefe e, segundo, porque, na Itália, as universidades não têm chefes, há uma grande anarquia. Na universidade eu posso fazer pesquisa, estudar e, também, estar no meio de gente jovem e criativa. Eu voltei para a universidade num mundo privado e o meu salário reduziu à metade.

O que faz no seu tempo livre?

Eu falo com você, converso com as pessoas. Não tenho tempo livre. Faço uma síntese de trabalho, lazer, estudo, diversão. Não reflito sobre a relação quantitativa entre o tempo de trabalho e o tempo livre. Tudo o que faço é desfrutar e aproveitar o tempo. Por exemplo, o que estamos fazendo neste momento? Estamos trabalhando? Estamos nos divertindo? Estamos estudando? Fica difícil saber. Estamos conversando, você está trabalhando, estudando e aprendendo.

Uma de suas teses é que o desemprego só tende a aumentar e que a maior parte de nós ficará desempregada. Portanto, o trabalho não será mais a nossa fonte de renda. Qual seria a alternativa, na sua opinião?

A minha tese é que o trabalho aumenta, mas o crescimento populacional é maior do que o crescimento do trabalho. Não há emprego para toda essa gente. A única solução é redistribuir o trabalho. As funções de caráter físico estão sendo exercidas por máquinas e os seres humanos devem se dedicar às atividades flexíveis.

O ócio criativo é uma arte que se aprende e se aperfeiçoa com o tempo e com o exercício. Existe uma alienação por excesso de trabalho pós-industrial e de ócio criativo, assim como existia uma alienação por excesso de exploração pelo trabalho industrial. É necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria; o sexo para produzir prazer; a família para produzir solidariedade, etc.
O tempo livre se ensina com o próprio tempo livre. Mas, não se trata mais tanto de tempo livre, pois quando as atividades são manuais, como as de um mineiro, há uma divisão clara entre as horas de trabalho e as horas fora do trabalho. Mas quando a atividade é intelectual, (temos aqui um publicitário) como distinguir o tempo de trabalho do tempo livre? Se ele estiver aflito por que tem de achar um slogan, ou a solução de um problema de um cartaz publicitário, esta aflição estará sempre presente, até de noite. Ele até pode achar a solução ao amanhecer, ainda sonolento. Hoje, tudo está mesclado. Estudo, trabalho e tempo livre, são uma coisa só. Vou dar um exemplo.
O que estamos fazendo agora? Estamos estudando? Bem..., às vezes, até trocamos idéias. Estamos trabalhando? Em certo sentido, sim. Estamos nos divertindo? Eu estou.


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