Por um acaso eu li uma matéria ontem sobre a nova lista de pecados capitais divulgada pela Igreja Católica, e lembrei de um texto meio empoeirado que estava na gaveta e que foi escrito por mim logo depois que o papa visitou o Brasil ano passado.
Algumas semanas depois da visita do Papa Bento XVI ao Brasil, ficam claras as verdadeiras intenções do líder de uma das maiores e mais influentes religiões que existem ao país que possui o maior número de fiéis católicos em todo mundo.
O mais óbvio é o seguinte: a fé católica, desgastada e ultrapassada pelos seus dogmas medievais diante do mundo moderno, tenta escapar da crise que a faz perder seus seguidores para outras doutrinas mais compreensivas e abrangentes, ou para outras ramificações menos radicais dentro de sua mesma Igreja. O Papa poderia ter feito isso de duas maneiras: através da flexibilização de algumas verdades do catolicismo ou mantendo o velho discurso secular e mandando os “infiéis” e ignorantes, literalmente, para o inferno. Infelizmente a segunda opção foi escolhida por Ratzinger.
O segundo motivo (e mais perigoso) é o projeto de retomada de poder da Igreja na esfera política. Sua Santidade, ao propor para o governo brasileiro a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas e a condenação criminal para aqueles que praticam o aborto busca legitimar o poder da sua religião através da ferramenta do Estado, relembrando épocas não tão distantes em que todo “herege”, com a permissão do rei, era queimado em praça pública, simplesmente por ter uma opinião diferente. Somos obrigados a aplaudir de pé a atitude do governo brasileiro neste caso, que mandou o recado em uníssono: somos um Estado laico.
A reafirmação da fé católica através do medo um dia foi eficiente, mas hoje chega a beirar o ridículo. O Papa tem atitudes estranhas para um líder religioso (como “excomungar” políticos que apóiem a legalização do aborto e proibir o uso de camisinha em um país onde se luta diariamente pela conscientização da população), mas a pior delas é, sem dúvida, o não reconhecimento da validade de outras religiões. Em época conturbada por inúmeros conflitos de cunho religioso, do conflito na Faixa de Gaza ao terrorismo fundamentalista islâmico e o “messias” de Deus chamado George Bush, nenhuma atitude é mais ridícula e condenável do que a intolerância religiosa; nada é mais ignorante do que pressupor que aqueles que não seguem os dogmas da Igreja estão invariavelmente errados e condenados a sentar no colo do capeta. Rousseau se revira no túmulo.
Fazendo críticas que vão da condenação das pesquisas com células-tronco à demonização do rock, vemos infelizmente que o atual Papa, ao invés de pregar o amor incondicional pelo homem e tentar adaptar a Igreja para ser uma referência moral nos tempos modernos, tem um discurso prepotente e não mede a conseqüência que suas palavras trazem na consciência de seus fiéis.
Tudo indica que Ratzinger, que em sua adolescência aderiu à juventude nazista, continua com a mesma viseira.
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