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domingo, 30 de março de 2008

A Linguagem Secreta do Cinema


Era um dia qualquer do ano passado. Dando uma volta por um dos shoppings do Rio depois do almoço, entrei despretensiosamente pela porta de uma livraria megastore que eu não lembro o nome; Fui direto para a sessão de DVDs procurar a primeira temporada do Scrubs. Eu lembro que na época estava cansado de ler livros de Filosofia, mas é dificil encontrar na TV alguma coisa mais filosófica que Scrubs hehe

Não achei nenhuma temporada, então sentei e comecei a folhear qualquer coisa que estava na prateleira da frente da poltrona na grande livraria. Achei um livro perdido, ele estava fora do lugar que devia, e o título me chamou a atenção: "A Linguagem Secreta do Cinema".

Quando abri ele, a primeira frase que eu li foi: "Existe o perigo de que, ao olharmos para o nosso mundo, deixe-mos de enxergá-lo". Senti um arrepio percorrer minha espinha.
Aconteceu assim, por acaso, da mesma forma que acontece tudo que realmente importa;
O livro me encontrou.

Quase um ano depois, após acabar de ler o último parágrafo dessa grande obra de Jean-Claude Carriére sobre a arte de fazer cinema, eu transcrevo um trecho para vocês:

"Somos, todos nós, qualquer que seja nossa ocupação, induzidos a preencher estantes, escaninhos, rótulos, gavetas. O que pode ser mais seguro do que mergulhar na primeira ruela secundária, tão protegida, tão aconchegante, tão fácil de se conhecer? O que pode ser mais seguro do que as formas estabelecidas (que nos agrada chamar de classicismo)? Ainda não dissemos nada e já começamos a nos repetir

Fazemos uma porção de filmes; talvez não criemos mais cinema algum. Perdemos o espírito da invenção , o espírito de aventura. Quando uma vaga reprovação nos chega de nossas zonas de sombra, e acreditamos ser fiéis a nós mesmos. Contudo, fidelidade é uma palavra como muitas outras; não significa rigorosamente nada, pelo menos quando usada de forma isolada. Fidelidade a quê? Ao permanecermos fiéis à forma, freqüentemente traimos a essência. E até a forma morrerá posteriormente, assim que lhe for subtraída toda substância.

Para nos resgatar do esquecimento, para desviar-nos de nossa rotina, só temos a imaginação. Sem que a percebamos, ela está sempre lá, voltando repetidas vezes ao ataque, e com infalível encanto. Como poderíamos deixar de imaginar? A imaginação nos leva sem esforço através de cada espelho; canta com voz de sereia. A cada passo, ela está lá para nos ajudar a escapar do laço monótono das coisas já vistas e ouvidas, da expertise, da experiência perigosa. Ela nos abre trilhas insuspeitadas através da vegetação rasteira.

É claro que, às vezes, fica apavorada, pois está sob constante ameaça. Já que pode conceber qualquer coisa, virar o mundo de cabeça para baixo, colocar um mendigo no trono e empurrar a pontapés um rei para dentro de um fosso, já que pode conceber até mesmo o apocalipse, o fim de todas as coisas, o supremo nada, ela é tolhida por todos os lados com desconfiança. Portanto, é maltratada, trancafiada. Obstruída regularmente, com freqüência se recolhe às mais escuras profundezas de seu esconderijo. Em algumas pessoas - só temos que olhar à nossa volta -, parece ter desaparecido, assassinada pela rotina e pelo medo. Tantas pessoas vivem eternamente trancadas dentro de existências rígidas, em modos de pensar estreitos.

Não há dúvida de que o grande perigo, tanto na esfera do Cinema como em outras, é a crença de que a expertise é o suficiente. Mas a verdade é que temos que provocar a imaginação constantemente, desconcertá-la, trabalhar em cada filme como se fosse o primeiro"

abraços

Um comentário:

Anônimo disse...

oi!
eu tb adorei este livro, até deixei um posto sobre ele no meu blog, o livro é incrível e carrière nem se fala! muita experiencia boa ele tem!
achei teu blog pesquisando sobre o livro na net.
me faça uma visita tb ;)