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segunda-feira, 10 de março de 2008

Um Minuto de Silêncio



O cheiro de fumaça impregnava o ar fúnebre daquela tarde de julho. O barulho das sirenes recheava o ar da grande cidade em alerta, e os olhos da multidão apreensiva presenciavam com pesar o inexorável destino de outra centena de vidas humanas, perdidas em um piscar de olhos, deixando para trás sonhos incompletos e agendas cheias de compromissos. “Será que alguém sobreviveu?” Uma voz anônima faz a pergunta que todos estavam pensando em fazer, carregada com o fio de esperança inerente à condição humana. Só o barulho crepitante das labaredas responde.

A tragédia inesperada faz com que os pensamentos de todos os presentes sejam involuntariamente arrastados para a pergunta primordial sobre o sentido da existência, questão que é constantemente apagada pela vida cotidiana das grandes cidades, onde não existe tempo para ser perdido com reflexões inúteis que não levam para lugar nenhum.

A racionalidade tenta em vão procurar respostas, por mais desagradáveis que sejam. Será que aquela garota de doze anos precisava morrer? Será que seu destino foi tão cruel a ponto de lhe privar de um primeiro grande amor, ou das lembranças dos amigos de faculdade? Será que sua morte foi inevitável, como se em um chamado divino? Ou será que foi apenas uma infeliz coincidência estar no lugar errado na hora errada?

Os bombeiros chegam e a multidão lentamente se dispersa, levando na memória um sentimento que perturba suas almas. Algumas pessoas simplesmente não conseguem dormir, remoendo o medo de um dia serem elas próprias vítimas de um acidente inesperado.

Mas, para outros, o jantar teve um gosto diferente e especial.

O vinho nunca foi tão doce, a vida nunca foi tão cheia de cor.

Em meio à escuridão, uma nostálgica lua cheia lembrava aquela dos velhos tempos em que se costumava observar o céu estrelado.

O amor pelos familiares pôde ser redescoberto em meio a sorrisos singelos, beijos e abraços de “boa noite”. Os simples prazeres estavam novamente fazendo toda diferença.


Outro dia amanhece e tudo volta ao normal. Entre a correria e o barulho da cidade não existe tempo para um minuto de silêncio. Notícias novas são transmitidas, e ninguém mais se lembra do atentado da noite passada em Bagdá.

2 comentários:

Vagner disse...

"A tragédia inesperada faz com que os pensamentos de todos os presentes sejam involuntariamente arrastados para a pergunta primordial sobre o sentido da existência, questão que é constantemente apagada pela vida cotidiana das grandes cidades, onde não existe tempo para ser perdido com reflexões inúteis que não levam para lugar nenhum."

"Você faz filosofia? Ah legal!...." (segue-se um silencio sepulcral, muda-se de assunto)

quantas vezes essa cena já repetiu em sua vida? Jornalismo tudo bem, o senso comum sabe pra que serve, filosofia nao, não dá dinheiro, nao tem objeto próprio e pra desespero de muito nem é ciencia...

a "vida cotidiana das grandes cidades" nos priva do grande prazer de pensar, do grande prazer de se perguntar, do grande prazer de nao aceitar tudo o que nos fala, do grande prazer em abrir um livro e ver o mundo se abrindo diante de nós.... somos constantemente privados de grandes prazeres, até do prazer de se poder pergutar pelo sentido da vida... pra que? "nao leva pra lugar nenhum"
o que nos é oferecido é a mesmice de sempre: baladas, bebidas, sexo e drogas...
Nada contra a essas coisas, muito pelo contrario, mas a vida é só isso? o sentido da vida é esse? se for "pare o mundo que eu quero descer"...

mas continuemos a caminhar, amanhã a noticia é outra, outras mortes, outras tragédias, outras garotas de 12 anos...

como diz o Adriano "muita filosofia faz mal" aplaudamos pois a vida, e bola pra frente que o final do mês está ai e preciso pagar minhas contas....

flw veio

Vagner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.