Sentado em um dos bancos do imenso metrô situado embaixo da Praça da Sé, um homem jovem e de olhos cansados olha para o nada e tenta preencher o espaço vazio dentro de sua mente. Uma voz vinda da televisão pendurada em um pilar fala sobre as últimas noticias de hoje, que são tão iguais às ultimas noticias de ontem, e que continuam como em um grande ciclo vicioso feito de tragédias e alegrias permeadas pela vida cotidiana, efêmera e medíocre. Ninguém vai se lembrar de nenhuma delas amanhã.
Um zumbido familiar ecoa por entre os túneis de metal, as portas se abrem nos vagões e milhares de pessoas passam apressadamente pelo corredor e pelas escadas da grande estação. O barulho de passos e murmúrios reverbera em alto volume, e os olhares se voltam vez por outra para o ponteiro do relógio, todos com esperança de chegar em casa a tempo da novela ou do futebol. Como um cisco parado em meio à frenética multidão, o homem no banco nunca se sentiu tão só. Por impulso ele se levanta e vai embora.
No caminho de casa observa os carros passando em meio aos prédios altos com luzes acesas. Imensos outdoors dizendo o que ele vai querer comer ou vestir, todos com fotos de lindas modelos que ele nunca vai conhecer. Pensamentos confusos surgem e desaparecem incessantemente no coração desse pobre homem que, desolado em meio ao concreto frio e a solidão de seu próprio coração, ainda clama por um sentido, algo que justifique sua existência infrutífera, um grito solitário e esperançoso por afeto dirigido ao buraco negro formado por seis bilhões de almas perdidas dentro de si mesmas.
Ao chegar em casa e ligar sua tv, o mundo moderno se revela como uma grande ironia. Nunca existiram tantas opiniões, teorias, modos de pensar, filosofias de vida que enchem as páginas da Internet e livros de auto-ajuda. Informação que ao invés de esclarecer, sufoca.
Um canal qualquer em meio a outros duzentos transmite uma declaração: “Estamos descobrindo novas tecnologias, e a ciência pode salvar o homem de epidemias, de furacões, pode acabar com a fome e, quem sabe, salvar o planeta de um meteoro qualquer”. Infelizmente essa boa notícia é apenas mais uma entre milhares que passam despercebidas pelo triste homem deitado em sua cama, e suas lágrimas são refletidas pela luz forte de grandes painéis de néon em sua janela.
Um comentário:
Nossa.. pq ele está triste??
bjoo Cê!! adoro seus textos!!
Pah
Postar um comentário