"Feliz é a vida que está conforme a própria natureza. Isso só pode acontecer se você mantiver a mente sã; se for verdadeiramente forte; decididamente paciente; adaptável às circunstâncias do tempo; atento ao corpo e a tudo que muda; mas sem ansiedade; amante das vantagens que aprimoram a qualidade de vida; mas com a devida precaução; feliz é aquele que consegue se servir com o dom da sorte sem dela tornar-se escravo”.
O que é felicidade?
Em meio às mudanças e perturbações da sociedade e do homem pós-moderno, parece que essa pergunta volta a ter algum sentido. O mais novo e polêmico manual da busca pela felicidade, a combinação do livro e do DVD com o nome de “O Segredo”, já venderam mais de dois milhões de cópias no mundo inteiro, e esse ramo se tornou o negócio mais lucrativo dos últimos tempos; Paralelamente a isso, uma pesquisa feita pela DataFolha em maio deste ano revelou que 90% dos brasileiros freqüentam algum culto religioso em busca de conforto espiritual. Tudo indica que a religião e a auto-ajuda possuam mesmo alguns pontos em comum: já não basta para justificar a miséria humana a resposta da vontade de Deus. Agora se alguma coisa está errada, é porque você não está vivendo da maneira certa.
O que explica o fenômeno de vendas desses livros? Historicamente, os momentos de pico da auto-ajuda coincidem com as épocas de crise e mudanças de comportamento. Os primeiros autores encontraram terreno fértil nos Estados Unidos da Grande Depressão, e fundaram através disso uma verdadeira indústria do bem-estar. Trata-se de um mercado imenso; Apenas no ano passado, as editoras americanas lançaram cerca de 3.500 títulos e faturaram 600 milhões de dólares com o gênero. O lema do negócio é que simplicidade e clareza são fundamentais no formato de um bom livro de auto-ajuda, e por essa razão é que os capítulos não costumam ter mais que três páginas e em cada uma delas encontra-se uma frase em tom imperativo que resume a idéia geral.
O sucesso desses manuais pré-fabricados parece ser fruto de uma sociedade extremamente competitiva e individualista, que não tem tempo para reflexão e precisa de respostas rápidas e fáceis para seus conflitos pessoais; esse papel era antes reservado para a Filosofia, mas ela é longa e complicada demais, então o mundo moderno prefere optar por conselhos simples que parecem saídos dentro de biscoitinhos da sorte chineses.
Por isso mesmo é preciso ter critério. Livros como esses, que buscam indicar receitas para a felicidade, são um prato cheio para místicos, gurus e pseudocientistas. É melhor não acreditar em respostas milagrosas que vão mudar sua vida ou em poderes eletromagnéticos justificados pela física quântica; A melhor literatura de auto-ajuda é aquela que conta histórias que façam você refletir sobre sua própria vida, e não aquela que indica caminhos esdrúxulos para conseguir dinheiro ou popularidade.
O que é felicidade? Essa pergunta é uma das mais antigas feitas pelo homem, e talvez nunca consigamos chegar a uma definição exata, mas a receita para se alcançar a felicidade parece familiar em todas as épocas; Por exemplo, o primeiro parágrafo deste texto, que parece retirado diretamente das páginas de mais um novo sucesso editorial, na verdade foi escrito no ano 43 d.C., pelo filósofo Sêneca.
3 comentários:
eae Ceriba,
com um tema desse nao poderia deixar de fazer um comentario, bom vamos lá.
primeiro: penso que esses livro de auto-ajuda não ajudam, se auto-ajuda resolvesse alguma coisa só seria necessario um livro, que resolveria todos os problemas de todas as pessoas, 2 ou mais livros desse ja demonstra que sua eficacia é limitada, e deixa claro a intenção comercial, o problema é que tem gente que compram essas coisas, mas enfim compram até Paulo Coelho... rs rs
segundo: olhando a questão mais a fundo, o problema da humanidade é justamente essa "busca da felicidade" quem disse que temos que busca a felicidade??? alias quem disse que temos que ser feliz??? alias o que é ser feliz???
gastamos nossa vida buscando uma coisa que na verdade nao sabemos nem o que é e nem se ela realmente chegará... será que a busca pela busca é valida??? será que a felicidade não é algo que se atinge quando nao buscamos??? penso que quando deixamos de buscar a felicidade aspiramos por outras coisas, essa nos chega em acrescimo, como "recompensa" por uma vida bem vivida...
enfim termino é claro citando Nietzsche que nos fala pela boca do Zaratustra:
"Meu sofrimento e minha compaixão -que importam! Por acaso aspiro a felicida? Eu aspiro por minha obra! Pois bem! Chegou o leão, meus filhos estão perto. Zaratustra está maduro, minha hora chegou: está é minha manhã, meu dia se inicia - eleva-te, eleva-te, pois oh grande meio-dia!"
flw veio,
tah legal o blog,
abraço
Vagner
Dae Vagner!
É uma honra receber um comentário do grande mestre filósofo no meu blog hehe e mesmo que o conteúdo dele seja jornalístico com certeza as questões expostas são filosóficas - e como poderia ser diferente?
Eu também compartilho de uma certa descrença na utilização de livros de auto-ajuda como receitas para alcançar algum tipo de sucesso imediato, livros que possuem mensagens como "10 passos para ser feliz" ou "peça e seja atendido pelo universo" são apenas artíficios mercadológicos para o sucesso de vendas de literatura de segunda mão. Mas o apelo funciona, e como funciona! hehe
Eu acho que a razão dessa busca por soluções imediatas de sucesso está embutida no meio social em que vivemos; mais precisamente na falta de tempo para a filosofia - não falo do estudo da filosofia propriamente dito, mas da reflexão filosófica sobre os problemas e as angústias criados pela pós-modernidade.
O resultado da falta de uma reflexão crítica sobre os problemas fundamentais do homem é esse: uma sociedade extremamente problemática e superficial, e que aceita qualquer palavra de conforto ou incentivo, mesmo que seja vindo dentro de biscoitinhos chineses da sorte.
"penso que quando deixamos de buscar a felicidade aspiramos por outras coisas, essa nos chega em acrescimo, como "recompensa" por uma vida bem vivida..."
Por mais nietzscheano que possa parecer, eu também acredito que o importante não é o destino, mas o caminho percorrido.
Obrigado pelo comentário cara!
abraço!
o que eu estava procurando, obrigado
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