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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Em Busca da Felicidade


"Feliz é a vida que está conforme a própria natureza. Isso só pode acontecer se você mantiver a mente sã; se for verdadeiramente forte; decididamente paciente; adaptável às circunstâncias do tempo; atento ao corpo e a tudo que muda; mas sem ansiedade; amante das vantagens que aprimoram a qualidade de vida; mas com a devida precaução; feliz é aquele que consegue se servir com o dom da sorte sem dela tornar-se escravo”.

O que é felicidade?

Em meio às mudanças e perturbações da sociedade e do homem pós-moderno, parece que essa pergunta volta a ter algum sentido. O mais novo e polêmico manual da busca pela felicidade, a combinação do livro e do DVD com o nome de “O Segredo”, já venderam mais de dois milhões de cópias no mundo inteiro, e esse ramo se tornou o negócio mais lucrativo dos últimos tempos; Paralelamente a isso, uma pesquisa feita pela DataFolha em maio deste ano revelou que 90% dos brasileiros freqüentam algum culto religioso em busca de conforto espiritual. Tudo indica que a religião e a auto-ajuda possuam mesmo alguns pontos em comum: já não basta para justificar a miséria humana a resposta da vontade de Deus. Agora se alguma coisa está errada, é porque você não está vivendo da maneira certa.

O que explica o fenômeno de vendas desses livros? Historicamente, os momentos de pico da auto-ajuda coincidem com as épocas de crise e mudanças de comportamento. Os primeiros autores encontraram terreno fértil nos Estados Unidos da Grande Depressão, e fundaram através disso uma verdadeira indústria do bem-estar. Trata-se de um mercado imenso; Apenas no ano passado, as editoras americanas lançaram cerca de 3.500 títulos e faturaram 600 milhões de dólares com o gênero. O lema do negócio é que simplicidade e clareza são fundamentais no formato de um bom livro de auto-ajuda, e por essa razão é que os capítulos não costumam ter mais que três páginas e em cada uma delas encontra-se uma frase em tom imperativo que resume a idéia geral.

O sucesso desses manuais pré-fabricados parece ser fruto de uma sociedade extremamente competitiva e individualista, que não tem tempo para reflexão e precisa de respostas rápidas e fáceis para seus conflitos pessoais; esse papel era antes reservado para a Filosofia, mas ela é longa e complicada demais, então o mundo moderno prefere optar por conselhos simples que parecem saídos dentro de biscoitinhos da sorte chineses.

Por isso mesmo é preciso ter critério. Livros como esses, que buscam indicar receitas para a felicidade, são um prato cheio para místicos, gurus e pseudocientistas. É melhor não acreditar em respostas milagrosas que vão mudar sua vida ou em poderes eletromagnéticos justificados pela física quântica; A melhor literatura de auto-ajuda é aquela que conta histórias que façam você refletir sobre sua própria vida, e não aquela que indica caminhos esdrúxulos para conseguir dinheiro ou popularidade.

O que é felicidade? Essa pergunta é uma das mais antigas feitas pelo homem, e talvez nunca consigamos chegar a uma definição exata, mas a receita para se alcançar a felicidade parece familiar em todas as épocas; Por exemplo, o primeiro parágrafo deste texto, que parece retirado diretamente das páginas de mais um novo sucesso editorial, na verdade foi escrito no ano 43 d.C., pelo filósofo Sêneca.

Estranho como suas palavras ainda soam atuais e necessárias.

3 comentários:

Vagner disse...

eae Ceriba,
com um tema desse nao poderia deixar de fazer um comentario, bom vamos lá.
primeiro: penso que esses livro de auto-ajuda não ajudam, se auto-ajuda resolvesse alguma coisa só seria necessario um livro, que resolveria todos os problemas de todas as pessoas, 2 ou mais livros desse ja demonstra que sua eficacia é limitada, e deixa claro a intenção comercial, o problema é que tem gente que compram essas coisas, mas enfim compram até Paulo Coelho... rs rs

segundo: olhando a questão mais a fundo, o problema da humanidade é justamente essa "busca da felicidade" quem disse que temos que busca a felicidade??? alias quem disse que temos que ser feliz??? alias o que é ser feliz???
gastamos nossa vida buscando uma coisa que na verdade nao sabemos nem o que é e nem se ela realmente chegará... será que a busca pela busca é valida??? será que a felicidade não é algo que se atinge quando nao buscamos??? penso que quando deixamos de buscar a felicidade aspiramos por outras coisas, essa nos chega em acrescimo, como "recompensa" por uma vida bem vivida...
enfim termino é claro citando Nietzsche que nos fala pela boca do Zaratustra:

"Meu sofrimento e minha compaixão -que importam! Por acaso aspiro a felicida? Eu aspiro por minha obra! Pois bem! Chegou o leão, meus filhos estão perto. Zaratustra está maduro, minha hora chegou: está é minha manhã, meu dia se inicia - eleva-te, eleva-te, pois oh grande meio-dia!"

flw veio,
tah legal o blog,
abraço
Vagner

Rafael Ceribelli Nechar disse...

Dae Vagner!
É uma honra receber um comentário do grande mestre filósofo no meu blog hehe e mesmo que o conteúdo dele seja jornalístico com certeza as questões expostas são filosóficas - e como poderia ser diferente?

Eu também compartilho de uma certa descrença na utilização de livros de auto-ajuda como receitas para alcançar algum tipo de sucesso imediato, livros que possuem mensagens como "10 passos para ser feliz" ou "peça e seja atendido pelo universo" são apenas artíficios mercadológicos para o sucesso de vendas de literatura de segunda mão. Mas o apelo funciona, e como funciona! hehe

Eu acho que a razão dessa busca por soluções imediatas de sucesso está embutida no meio social em que vivemos; mais precisamente na falta de tempo para a filosofia - não falo do estudo da filosofia propriamente dito, mas da reflexão filosófica sobre os problemas e as angústias criados pela pós-modernidade.

O resultado da falta de uma reflexão crítica sobre os problemas fundamentais do homem é esse: uma sociedade extremamente problemática e superficial, e que aceita qualquer palavra de conforto ou incentivo, mesmo que seja vindo dentro de biscoitinhos chineses da sorte.


"penso que quando deixamos de buscar a felicidade aspiramos por outras coisas, essa nos chega em acrescimo, como "recompensa" por uma vida bem vivida..."

Por mais nietzscheano que possa parecer, eu também acredito que o importante não é o destino, mas o caminho percorrido.

Obrigado pelo comentário cara!
abraço!

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado