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sábado, 4 de dezembro de 2010

Balanceagas Torres & Os Corações Pelludos



* retirado do v- book de Claudio Tognolli "Balanceagas Torres e os Corações Pelludos", baixado gratuitamente em www.editoradobispo.com.br

"O bochorno de todos esses humores de ar, no bairro do meu coração, retirava o tempo do próprio tempo, de modo que uma frase, talvez dita por Wittgenstein (que horas são no sol?) seria aplicável, sem dúvida, nestas paragens de putridão: o tempo, sufocado por essa paisagem, certamente nunca existiu. No princípio do Veranico, lá pelos tantos de maio, grupos de ciganos assentavam barracas ao lado das pontes e alças que cruzavam o Rio Tietê. As cabanas eram de plástico azul, rasgadas pelo tempo, e seus cães, tornados cor de neve podre ou de um branco sublunar misturado ao barro. Esse ponto dos ciganos era aquele no qual estava espetado o telefone público pelo qual deveria acessar, nas horas mortas, o primeiro Balenciagas Torres que encontrei. O encontro, marcado exatamente no bairro onde eu nasci, era a minha forma de exercer um risco seguro."

domingo, 21 de novembro de 2010

Together






sunday time off.
don´t mind the robe or the beggar appearence.


domingo, 7 de novembro de 2010

Educação Negativa






** a diagramação do BLOGGER.COM está cada vez pior. Mas agora existe um botão acima do blog (A+ A-) que permite você escolher o tamanho de sua fonte e resolve um pouco do problema! abraços

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Na semana retrasada eu apresentei o trabalho 'Virtude e Verdade - A crítica ao iluminismo de J.J.R', e no meio desta semana tive um trabalho publicado pela 'Semana de Educação - Contrapontos' da UEL. Apesar de estar meio afastado da academia e em uma correria anti-produtiva (filosóficamente falando) é sempre bom voltar a ler o bom e velho Jean Jacques.


Abaixo um trecho do artigo publicado


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A NATUREZA COMO FONTE DA EDUCAÇÃO NEGATIVA EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU




“Não se pensa senão em conservar a criança; não basta; deve-se-lhe ensinar a conservar-se sendo homem, a suportar os golpes da sorte, a enfrentar a opulência e a miséria, a viver, se necessário, nos gelos da Islândia ou no rochedo escaldante do Malta (...) trata-se menos de impedi-la de morrer do que fazê-la viver. Viver não é respirar, é agir; é fazer uso de nossos órgãos, de nossos sentidos, de nossas faculdades, de todas as partes de nós mesmos que nos dão o sentimento de nossa existência. O homem que mais vive não é aquele que conta maior número de anos e sim o que mais sente a vida.” (ROUSSEAU, 1968, p.16)

            A tarefa de exercer essa espécie de educação negativa[1] em meio ao turbilhão social é mais difícil do que aparenta, e Rousseau não subestima as dificuldades[2] que o aguardavam na criação desse homem da natureza denominado por ele de Emílio, mas ele tampouco se importa demasiadamente com essas questões. As objeções feitas pelos outros filósofos não passam de conjecturas vazias para Jean-Jacques: ele, por ser mais um observador da natureza do que um cientista; por se achar mais em busca de uma verdade do que da fama; por ser antes um homem do que um filósofo[3]; acredita encontrar-se em condições de se abster dos vãos exercícios de retórica sobre sua obra[4], e se satisfaz em ser honesto consigo mesmo, vislumbrando os resultados hipotéticos de sua educação[5].

“Ainda que os filósofos estivessem em condição de descobrir a verdade, qual entre eles teria interesse nela? Cada um deles sabe que seu sistema não é mais bem alicerçado que o dos outros, mas o sustenta porque é seu. Não há um só que, chegando a conhecer o verdadeiro e o falso, não prefira a mentira que encontrou à verdade descoberta por outro. Onde se encontra o filósofo que, por sua glória, não enganaria de bom grado o gênero humano? Onde se encontra o que, no segredo de seu coração, se proponha a outro objetivo senão o de se distinguir? Conquanto se eleve acima do vulgo, conquanto destrua seus concorrentes, que quer mais? O essencial está em pensar diferentemente dos outros. Entre os crentes ele é ateu, entre os ateus seria crente.” (ROUSSEAU, 1968, p.308)



[1] “Conhecido o principio, percebemos claramente o ponto em que abandonamos o caminho da natureza; vejamos o que é preciso fazer para nele nos mantermos” (ROUSSEAU, 1968, p.49)

[2] “Quanto mais insisto no meu método inativo, mais sinto as objeções se reforçarem. Se vosso aluno não aprender nada de vós, aprenderá dos outros. Se não prevenirdes o erro com a verdade, ele aprenderá mentiras; os preconceitos que temeis dar-lhe, ele os receberá de tudo o que o cerca, ele os terá através de todos os seus sentidos; ou corromperão sua razão, antes mesmo que esteja formada, ou seu espírito, entorpecido por uma longa inatividade, se absorverá na matéria. A falta de hábito de pensar na infância tira a faculdade de fazê-lo durante o resto da vida.” (ROUSSEAU, 1968, p.111)

[3] "Note, afinal, que eu sou sempre o monstro que sustenta ser o homem naturalmente bom, enquanto meus adversários são sempre as pessoas de bem que, para a edificação pública, esforçam-se por provar que a natureza só deu origem a celerados" (ROUSSEAU, 1999, p. 163)

[4]O discurso de Rousseau sobre as críticas de sua obra pelos filósofos da época não mudam até o final de sua vida, como podemos perceber em um de seus últimos escritos: “É assim que, raciocinando comigo mesmo, consegui não mais me deixar abalar em meus princípios por argumentos capciosos, por objeções insolúveis e por dificuldades que ultrapassavam meu alcance e talvez o do espírito humano. O meu, permanecendo na mais sólida situação que lhe pudera dar, acostumou-se tão bem a nela descansar ao abrigo de minha consciência, que nenhuma doutrina estranha, antiga ou nova, pode mais comovê-lo nem perturbar por um instante, meu repouso. Tendo caído na apatia e no entorpecimento do espírito, esqueci até mesmo os raciocínios sobre os quais baseava minha crença e meus princípios, mas nunca esquecerei as conclusões que dela tirei com a aprovação de minha consciência e de minha razão e a isso me atenho doravante.” (ROUSSEAU, 1995, p.50)


[5] “Sei que, obstinando-se a só imaginar o que vêem, encararão o jovem que apresento como um ser imaginário, de fantasia, porque difere daqueles a que o comparam; sem pensarem que é preciso mesmo que difira, porquanto, educado diferentemente, com sentimentos contrários aos dos outros, instruído de outra maneira, seria muito mais surpreendente que a eles se assemelhasse do que ser como o suponho. Não é o homem do homem, é o homem da natureza.” (ROUSSEAU, 1968, p.289)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Sábio Sileno




Ouvi essa história do Nietzsche na aula do grande mestre Weber, no meu primeiro ano de Filosofia


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[...] “Não te afastes daqui sem primeiro ouvir o que a sabedoria popular dos gregos tem a contar sobre essa mesma vida que se estende diante de ti com tão inexplicável serenidade e jovialidade. Reza a antiga lenda que o rei Midas perseguiu na floresta, durante longo tempo, sem conseguir capturá-lo, o sábio Sileno, companheiro de Dionísio. Quando, por fim, ele veio a cair em suas mãos, perguntou-lhe o rei qual dentre as coisas era melhor e a mais preferível para o homem. Obstinado e imóvel, o demônio calava-se; 


Até que, forçado pelo rei, prorrompeu finalmente, por entre um riso amarelo, nestas palavras: – 


Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso e do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. 


Depois disso, porém, o melhor para ti é logo morrer”.
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Logo depois, ele emendou "por favor, se vocês um dia pensarem em se matar, larguem o curso antes. já chega de suicidas por aqui"

hahaha

domingo, 17 de outubro de 2010

Zen

* trecho retirado de Godel, Escher, Bach - an eternal golden braid, de Douglas Hofstader. Tradução livre de Ceriblog,






"O estudante Doku chegou até o Mestre Zen, e disse: "Estou procurando a Verdade. Em qual estado da minha mente eu devo chegar, para alcançá-la?"
O Mestre diz: "Não existe mente, então você não pode chegar a nenhum lugar. Não existe Verdade, então você não pode alcançá-la."
- "Se não existe mente para treinar,e nenhuma verdade para encontrar, porque você é mestre desses monges que vêm até aqui todos os dias para estudar e praticar o Zen?"
- "Eu não tenho nenhum centímetro de espaço aqui" - diz o Mestre - "então como podem os monges se reunirem nesse espaço? Eu não tenho língua, então como posso chamá-los até aqui ou ensiná-los?" 
"Oh, como você pode ser tão mentiroso?" pergunta Doku.
"Se eu não tenho lingua para falar com as pessoas, como posso mentir para você?" pergunta o Mestre.


Então Doku responde, tristemente "Eu não posso ser seu discípulo. Eu não consigo entendê-lo."
"Eu não consigo me entender", diz  o Mestre


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O que é dualismo? 

Dualismo é a divisão conceitual do mundo em categorias. É possível transcender essa tendência natural? Pelo prefixo da palavra 'divisão' com a palavra 'conceitual', eu posso ter dado a impressão de que se trata de um esforço intelectual e consciente, e talvez possa fazer alguém assumir que o dualismo pode ser ultrapassado simplesmente com a supressão do pensamento (como se suprimir o pensamento fosse algo simples!). Mas a quebra do mundo entre categorias acontece em um nível muito inferior à camada superior da lógica; na verdade, dualismo é uma questão perceptiva do mundo entre categorias. Em outras palavras, a percepção humana é por natureza um fenômeno dualístico - o que faz a jornada pela iluminação ser uma batalha dificílima, para dizer o mínimo.

No coração do dualismo, de acordo com o Zen, estão as palavras --á apenas as palavras. O uso de palavras é inerentemente dualístico, sendo que cada palavra representa, obviamente, uma categoria conceitual. Dessa maneira, uma parte considerável da filosofia Zen é a luta contra a confiabilidade das palavras. Para combater  o uso das palavras, um dos melhores instrumentos é o koan, onde as palavras são tão profundamente abusadas que a compreensão da história é nula. Assim sendo, é talvez errado dizer que o inimigo da iluminação é a lógica; na verdade, é o pensamento verbal, dualístico. Talvez até mais básico do que isso: é a percepção. Assim que você percebe um objeto, você desenha uma linha entre isto e o resto do mundo: você divide o mundo, artificialmente, em partes, e dessa maneira você se perde do Caminho.

domingo, 26 de setembro de 2010

Todo Poder tem Limite

editorial da FOLHA de S. Paulo, do dia 26/09






Todo poder tem limite

Os altos índices de aprovação popular do presidente Lula não são fortuitos. Refletem o ambiente internacional favorável aos países em desenvolvimento, apesar da crise que atinge o mundo desenvolvido. Refletem,em especial, os acertos do atual chefe do Estado.  Lula teve o discernimento de manter a política econômica sensata de seu antecessor. Seu governo conduziu à retomada do crescimento e ampliou uma antes incipiente política de transferências de renda aos estratos sociais mais carentes. A desigualdade social, ainda imensa, começa a se reduzir. Ninguém lhe contesta seriamente esses méritos.

Nem por isso seu governo pode julgar-se acima de críticas. O direito de inquirir,duvidar e divergir da autoridade pública é o cerne da democracia, que não se resume apenas à preponderância da vontade da maioria. Vai longe, aliás, o tempo em que não se respeitavam maiorias no Brasil. As eleições são livres e diretas, as apurações, confiáveis -e ninguém questiona que o vencedor toma posse e governa. Se existe risco à vista, é de enfraquecimento do sistema de freios e contrapesos que protege as liberdades públicas e o direito ao dissenso quando se formam ondas eleitorais avassaladoras, ainda que passageiras. 


Nesses períodos, é a imprensa independente quem emite o primeiro alarme, não sendo outro o motivo do nervosismo presidencial em relação a jornais e revistas nesta altura da campanha eleitoral. Pois foi a imprensa quem revelou ao país que uma agência da Receita Federal plantada no berço político do PT, no ABC paulista, fora convertida em órgão de espionagem clandestina contra adversários. Foi a imprensa quem mostrou que o principal gabinete do governo, a assessoria imediata de Lula e de sua candidata Dilma Rousseff, estava minado por espantosa infiltração de interesses particulares. É de calcular o grau de desleixo para com o dinheiro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do Estado federal.


Esta Folha procura manter uma orientação de independência, pluralidade e apartidarismo editoriais, o que redunda em questionamentos incisivos durante períodos de polarização eleitoral. Quem acompanha a trajetória do jornal sabe o quanto essa mesma orientação foi incômoda ao governo tucano. Basta lembrar que Fernando Henrique Cardoso,na entrevista em que se despediu da Presidência, acusou a Folha de haver tentado insuflar seu impeachment.


Lula e a candidata oficial têm-se limitado até aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, embora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no exercício do cargo que pretendem intercambiar. Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais bravatas somente redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas -e qualquer governo terá de violar cláusulas pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Bem-Vindo a um Lugar de Mentira

* matéria publicada na Folha2 de 05/09/10


O céu alaranjado clareava o horizonte, e suas cores contrastavam perfeitamente com o cenário desolado, o oceano de areia que seguia infinitamente. O abafamento sufocante daquela região parecia fazer todo o resto pairar no ar, quase como se o próprio tempo ficasse em suspensão, e o relógio demorava a passar. Ao longe, uma imagem fantasmagórica surgia, e quem observasse aquele momento poderia imaginar que estava em alguma espécie de transe ou miragem: ali estava um homem com uma câmera.

A região descrita, um deserto morto e inabitável, famoso pelo nome de ‘empty quarter’ - literalmente ‘quarteirão vazio’, em inglês - estende-se por mil quilômetros dentro dos Emirados Árabes, e é um dos lugares mais remotos do mundo. O homem com a câmera não é uma ilusão, seu nome é Guilherme Peraro, cineasta londrinense que participou da produção e direção de vários filmes premiados, entre eles Haruo Ohara, vencedor de vários prêmios no festival de Gramado de 2010.  “Desde quando eu pisei pela primeira vez no oriente médio eu pensei em produzir um documentário que conseguisse retratar a sensação de viver em um lugar como aquele” comenta.

Peraro é formado em Engenharia e passou o período de alguns anos trabalhando em uma empresa de prospecção de petróleo no Oriente Médio, mas nunca abandonou sua paixão pela sétima arte. “desde quando eu era pequeno sonhava em fazer filmes, assistia tudo que passava na TV e trocava fitas VHS com meus amigos. Acho que cinema tem mais a ver com paixão do que com qualquer outra coisa” diz Guilherme, que transformou sua paixão em algo concreto ao ser um dos fundadores da Mostra Cinema de Londrina e conciliar sua carreira de engenheiro com uma produção cinematográfica respeitável “acho que é para fazer cinema é preciso dar o primeiro passo. Sua vontade de fazer um filme precisa ser maior do que qualquer outra coisa. No fim, sempre é muito gratificante.”

As filmagens do seu novo documentário experimental, que possui o nome provisório de Marhaba – ‘bem-vindo’ em árabe – foram feitas durante as viagens do engenheiro/cineasta e duraram quatro anos para serem compilada “quando eu tinha um intervalo ou um dia de folga no trabalho, eu aproveitava para fazer filmagens das coisas que me chamavam a atenção” conta Guilherme. Ele, que viajou com sua lente por entre as luxuosas rodovias e gigantescos edifícios recém-construídos de Abu Dhabi, passando por entre as ruelas sujas e feiras a céu aberto – chamadas de Souk – dentro do Paquistão, e relata uma visão muito peculiar: a do estrangeiro perdido em uma terra que não parece ter uma identidade formada “uma sensação muito forte que eu tive fazendo esse filme era de que eu estava morando em um lugar de mentira, porque é uma região em que a maioria das pessoas não estão lá definitivamente. Na verdade, [os Emirados Árabes] são países de passagem” completa.

O objetivo de Peraro com este documentário experimental - que ainda encontra-se em fase de montagem - é tentar demonstrar os seus sentimentos das viagens através de planos de câmera que dão a impressão de distanciamento; os olhares se esgueiram pelas ruas, observam de longe essa cultura nos quais os caminhos novos e antigos se cruzam e entrelaçam – uma cultura onde a forte tradição se debate frente a frente com tecnologia, e que a riqueza  é proporcionada pelo ouro negro que jorra nas entranhas dessa peculiar terra seca e áspera – tudo isto pontuado com a trilha melódica do seu amigo e músico Kamal Mussalam, que é cidadão da Jordânia e toca jazz com toques da cultura arábica. Nada mais adequado.

Depois do término deste projeto, o cineasta londrinense não pensa em descansar sua câmera por muito tempo “quando eu voltar para os Emirados, um sonho louco que eu tenho é o de fazer igual o aventureiro Wilfred Thesiger, e documentar a travessia do ‘empty quarter’ com a ajuda dos nômades. Aquele lugar é fascinante.” Apesar de o aventureiro etíope escrever sobre essa região como sendo uma ‘terra amarga, desidratada, que não conhece nada de delicadeza ou facilidade’, as imagens e depoimentos inspiradores do cineasta londrinense nos levam a pensar que, dentro do vazio do deserto, existe ainda muita beleza para ser revelada.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Bom Selvagem




‘“Quantas vezes, à hora do almoço ou à do jantar, sentia-me empolgado. Dava, então, humildes ações de graças a Deus Nosso Senhor, por me ter dado tantas coisas, por me ter permitido conseguir alimento no meio do deserto (...) Deste modo, sempre, procurei considerar mais o lado bom da minha condição do que o mau. Procurando alegrar-me com o que possuía e não me desesperar com o que não tinha, porque os desgostos que nos avassalam e mortificam, relativamente às coisas que não temos, são todos frutos da falta de reconhecimento pelo que possuímos.” (Robinson Crusoé)

“Desde que precisamos absolutamente dos livros, existe um que fornece, ao meu ver, o mais feliz tratado da educação natural. Esse livro será o primeiro que Emílio lerá; ele sozinho constituirá durante muito tempo toda a sua biblioteca e sempre terá nela um lugar importante. Será o texto a que  todas as nossas conversações acerca das ciências naturais servirão apenas de comentários. Servirá para comprovar os progressos de nossos juízos. E enquanto nosso gosto não se estragar ele nos agradará sempre. Mas qual esse livro maravilhoso? Aristóteles? Plínio? Buffon? Não: Robinson Crusoé” (J.J. Rousseau) 

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Armando Vara fala sobre o Japão



tiramos 10 na oitava série com este documentário extraordinário.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quaerendo Invenietis

Do primeiro zero a gente nunca esquece.

Esse número, criado pelo Hindus ou pelos Babilônios; vital para o desenvolvimento da civilização; essa dádiva, representação do vazio, do caos e a base para todas as teorias numéricas, o zephirum fundamental de todo o raciocínio humano, e que foi embutido de todo um significado moral na sociedade contemporânea, mais especificamente nas provinhas do sábado de manhã colégio marista.

0

Este número - ou não-número -  fundamental foi, ironicamente, a minha nota naquela fatídica prova de matemática, que eu segurava com a perplexidade de um macaco que se vê diante de uma máquina de pinball. 

Até hoje eu lembro do esforço imenso que eu tinha que empreender a fim de passar raspando nas inúmeras disciplinas de "matemática" que me perturbaram durante toda minha vida, no colégio e além. Primeiro foram as tabuadas, depois bhaskara, seguidos da geometria, dos logs, de potência infinitas e matrizes; para mim, tudo isso parecia um imenso exercício inútil, um trabalho de Sísifo que consumia todo meu precioso tempo, no qual eu poderia estar fazendo coisas muito mais produtivas: meu Tamagochi precisava ser alimentado, eu ainda não tinha visto o último episódio do X-Files e tinha que experimentar uma nova cola artesanal que aprendi fazer no mundo de Beakman. 

Cada vez mais eu comecei a subornar minha própria consciência de que a verdade não podia se encontrar naquele quadro cheio de rabiscos incompreensíveis e naquele professor cansado da própria vida; o agente Mulder tinha razão. A verdade, ela tinha que estar lá fora. Talvez na cantina do Laerte.

Quando fiquei mais velho e comecei a descobrir as maravilhas infinitas proporcionadas pelo coquetel de álcool, mulheres e rock and roll, minhas inclinações matemáticas começaram misteriosamente a se deteriorar ainda mais - ao ponto de eu ter uma imensa preguiça mental para fazer contas de adição/subtração, e deixar todo o cálculo dos churrascos e do poker nas mãos dos meus amigos que faziam engenharia,  tendo assim uma óbvia desvantagem evolutiva no gerenciamento do meus escassos trocados.

Para fugir do meu fardo, para evitar de levar nas costas esse meu arqui-inimigo milenar, que escolhi fazer dois cursos na área de humanas. Com certeza eu não teria nenhuma matéria envolvendo aquela parte sub-utilizada do meu cérebro no jornalismo ou na filosofia. Aí fomos surpreendidos novamente - depois de gastar penosos cinco anos para matar na Filosofia o monstro de sete cabeças chamado de 'lógica proposicional', eu cheguei a uma simples conclusão: meu raciocínio analítico é uma piada de mal gosto.

Não é a toa que eu me senti revigorado ao ser levado por forças ocultas a comprar um tomo de 800 páginas chamado 'Gödel, Escher, Bach - an Eternal Golden Braid' - uma obra genial de Douglas Hofstader que a cada dia me faz enxergar os números para além do véu desfigurado de minha formação acadêmica - para além das provinhas de sábado a tarde, dos professores com tendências suicidas ou das japonesas/chinesas malditas que decoram a tabuada de trás pra frente. 

Meu interesse por esta ciência foi reacendido,
e eu nunca me senti tão orgulhoso daquele singelo zero.
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"Números são uma distorção da realidade. No entanto, existe um senso antigo e inato nas pessoas de que os números não deveriam ser vistos dessa maneira. Existe algo limpo e puro na noção abstrata dos números, e deve existir alguma forma de falar sobre os números sem ter a inconveniência da realidade como invasora de nosso raciocínio.

As regras pontuais que governam os números 'ideais' constituem a aritmética, e suas conseqüências avançadas constituem a 'teoria dos números'. Existe uma questão relevante a ser considerada, na transição dos números embasados em coisas práticas do cotidiano para da dos números vistos como estruturas formais. Uma vez que decidimos encapsular toda a teoria dos números dentro de um sistema ideal, é realmente possível fazer o trabalho completamente? Os números são tão puros e cristalinos e consistentes que sua essência pode ser completamente capturada dentro de um sistema formal? A figura 'Liberation', uma das mais lindas pinturas de Escher, é um contraste maravilhoso entre o formal e o informal, apresentando uma fascinante região de transição entre os dois. 

Seriam os números livres como os pássaros? 

Eles sofrem enormemente por serem cristalizados dentro de um sistema de regras fixas?

Existe uma zona de transição mágica entre os números como são na realidade e a forma como eles são representados dentro dos axiomas formais?


Cabe a nós descobrirmos esse enigma."
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abraços!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Everything Reminds me of Her

Fim de tarde frio, e eu aproveito minha voz de gripe pra tentar fazer alguma coisa parecida com a música do Elliot Smith;

domingo, 18 de julho de 2010

As Luzes de Nosso Século



"Como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude, se as nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável do título de filósofo! Mas tantas qualidades dificilmente andam juntas e a virtude nem sempre se apresenta com tão grande pompa. (...) Antes que a arte polisse nossas maneiras e ensinasse nossas paixões a falarem a linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos, mas naturais, e a diferença dos procedimentos diferenciava, à primeira vista, a dos caracteres.

Atualmente, quando buscas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a princípios a arte de agradar, reina entre os nossos costumes uma uniformidade desprezível e enganosa, e parece que todos os espíritos se fundiram em um mesmo molde: incessantemente a polidez impõe, o decoro ordena: incessantemente seguem-se os usos e nunca o próprio gênio. Não se ousa mais parecer mais como é e, sob tal coerção perpétua, os homens que formam o rebanho chamado de sociedade, nas mesmas circunstâncias, farão todos as mesmas coisas desde que motivos mais poderosos não os desviem.

Que cortejo de vícios não acompanha essa incerteza! Não mais amizades sinceras e estima real; não mais confiança cimentada. As suspeitas, os receios, os medos, a frieza, a reserva, o ódio, a traição esconder-se-ão todo o tempo sob esse véu uniforme e pérfido da polidez, sob essa urbanidade tão exaltada que devemos às luzes de nosso século."  

Jean-Jacques Rousseau - Discurso sobre as Ciências e as Artes

domingo, 20 de junho de 2010

O Misterioso Desaparecimento de José Miguel - Final




O misterioso desaparecimento do popstar Jansen Borowski. 
Hank Slapalot investiga o caso.
Mais informações em www.hank.slapalot.zip.net

quarta-feira, 16 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Misterioso Desaparecimento de José Miguel - 1º bloco




Física avançada, drogas, teoria de Kaluza-Klein.
Saiba mais sobre a infância deste garoto prodígio, o jovem José Miguel.

2º e 3º bloco estarão em breve no ar

domingo, 6 de junho de 2010

Quem é José Miguel?



teaser/promo deste revelador documentário. O mistério será revelado com o upload de um bloco por semana haha



abraços!

sábado, 1 de maio de 2010

Thanagarian Snare Beast?



Querem conhecer o processo criativo de Hollywood?
Assistam essa entrevista com Kevin Smith huahauhuha



Pra quem não assistiu ainda algum filme desse diretor, aí vai uma cena muito boa do 'Clerks II'
hahaha abraços!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Schwarzschild e as Longas Noites Nerds



Eu.
Aqui.
Em um pico de cafeína e fazendo pesquisa de campo para o trabalho da pós em Cinema - sim, astronomia faz parte disso, eu acho (?) - e daí que eu encontro um blog que faz um comentário interessante sobre um curta metragem e a sua insustentabilidade perante as leis da Física.

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Por causa da região de Schwarzschild em torno dos buracos negros, podemos pensar neles como os bancos de dados do universo. Os cronistas do mundo que guardam cada registro captado desde a origem do universo. Isso acontece porque à medida que um observador se aproxima da singularidade a curvatura aumenta e seu tempo-próprio (o tempo medido pelo seu relógio) passa cada vez mais devagar. Então os buracos negros são como discos de vinil, a cada milímetro de distância do centro existe um anel que contém informações necessárias para se descrever o universo como visto por aquele buraco negro em um momento no tempo. Se o observador está a uma distância da singularidade (dentro do raio de Schwarzschild) e olha por cima dos ombros para o universo, ele vai ver uma paisagem diferente da que veria se estivesse mais longe ou mais perto do centro do buraco e veria o universo mais antigo à medida que se aproximasse. Vale salientar que Stephen Hawking descobriu que os buracos negros na verdade não são completamente negros. Aos poucos eles irradiam a chamada radiação de Hawking que num futuro distante acabaria por esgotá-los. Assim como os CDs piratas e pen drives de vinte reais, os buracos negros não são formas confiáveis de guardar informação.


De toda forma, se aquele círculo preto na folha de papel fosse um buraco negro, muito rapidamente tudo ao seu redor (o sistema solar) seria sugado pela sua imensa força gravitacional e se juntaria à matéria do seu interior.

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E assim começa mais uma noite nerd.
Aproveitem o conhecimento inútil hahaha

abraços!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Marcus Tullius Cicero



"Se Roma existe, é por seus homens e por seus hábitos"

"... os homens foram gerados com uma lei que hão de cumprir: a de cuidar daquele globo que se vê no meio deste templo e se chama Terra; foi sob esta condição que sua alma foi tirada desses fogos eternos que chamais de astros e constelações móveis; animados por inteligências divinas, os círculos e obras dessas esferas percorrem-nas com incrível celeridade (...) as riquezas, o nome ilustre, o poderio, sem a sabedoria que ensina aos homens a se governarem e dirigir os outros nada mais são do que uma vergonhosa e insolente vaidade; não há no mundo espetáculo mais triste que uma sociedade em que o valor dos homens é medido pelas riquezas que possuem."

Cícero 106 - 44 a.C.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Primeiro de Abril!

Porque sempre que eu assisto MonsterQuest até o final, eu me sinto enganado pelo gênio maligno.





abraços!

segunda-feira, 22 de março de 2010

The Long, Dark, Tea-Time of The Soul.



Eu me lembro que alguém, algum dia, em algum canal de TV que provavelmente eu prestei atenção durante quatro segundos e meio, disse: "Eu sinto inveja de quem nunca leu a Odisséia, porque eles ainda podem ter a indescritível sensação de lê-la pela primeira vez". Eu achei isso interessante; logo depois comprei o livro em um sebo, e minha batalha para ler a obra prima de Homero começou - e recomeçou - e se repete infinitamente durante os capítulos - ou tomos? - de I a IV. 

Enfim, as páginas estão longe de ter um fim. 
Eu nunca li a Odisséia; eu não sei o que Ulisses disse para a Scylla (um provável *sic* neste nome) antes de decepar suas sete ou oito cabeças e eu desconfio, infelizmente, que para eu chegar a essa 'sensação indescritível' sem a ajuda de drogas psicotrópicas eu precisaria ler o texto no original - e meu chute é que ler grego pode ter, em algum micronível de subconsciência, o mesmo efeito que tomar um chá de cogumelos nascidos no meio de estrume bovino.

Mas eu entendo o velho barbudo no canal desconhecido. Eu acabei de sentir essa espécie de 'melancolia literária' quando fechei a última página do último livro de Dirk Gently (escrito pelo genial D.A.); e eu tenho um peso enorme na consciência ao chegar a conclusão que é isso - acabou - nunca mais vou ter o consolo de abrir uma de suas páginas e pensar "nossa que coisa idiota." ou "nossa que genial" ou, mais freqüentemente,  "Que genialidade idiotística incomensurável!".

O que me resta agora é não entrar em pânico - comprar uma toalha, viajar pelo mundo e sempre ter em mente que, independente da situação horrível em que eu me encontrarm fisicamente ou emocionalmente, sempre em um planeta distante, em uma colina de fogo estará escrita, em letras maiúsculas, a grande mensagem da Força Superior...............

DESCULPE PELA INCONVENIÊNCIA. 

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"It can hardly be a coincidence that no language on Earth has ever produces the expression "as pretty as an airport.". Airports are ugly. Some are very ugly. Some attain a degree of ugliness that can only be a result of a special effort. This ugliness arises because airports are full of people who are tired, cross, and have just discovered that their luggage has landed in Murmansk (Murmansk airports are the only known exception to this otherwise infallible rule).

Kate Schechter stood and doubted. All the way out of London to Heathrow she had suffered from doubt. She was not a supersticious person, or even a religious person, she was simply someone who was not at all sure she should be flying over to Norway. But she was finding it increasingly easy to believe that God, if there was a God, and if it was remotely possible that any godlike being who could order the disposition of particles at the creation of the Universe would also be insterested in directing traffic on the M4, did not want her to fly to Norway either. All the trouble with the tickets, finding a next door neighbor to look after the cat, then finding the cat so it could be looked after the next-door neighbor, the sudden leak in the roof, the missing wallet, the weather, the unexpected death of the next-door neighbor, the pregnancy of the cat, even the taxi driver - when she had eventually found a taxi - has said "Normay? And what you want to go there for?" And she hadn´t instantly said "The aurora borealis!" or "Fjords!" but had looked doubtful for a moment and bitten her lip, he had said "forget Norway, go to Tenerife." 
There was an idea...
Tenerife."  

terça-feira, 9 de março de 2010

Do Caminho do Criador

* Depois de roubar essa citação do orkut do grande mestre Vágner, eu penso seriamente em fazer uma segunda leitura do 'Zaratustra' 



"Meu irmão! Queres caminhar para a solidão?
Queres procurar o caminho que conduz a ti mesmo?
Detém-te um pouco e escuta-me: ‘Aquele que procura, facilmente se perde em si mesmo. Todo partir para a solidão é culpa - assim fala o rebanho. E tu fizeste parte do rebanho durante muito tempo.

A voz do rebanho continuará ressoando dentro de ti. 
Queres, porém, percorrer o caminho de tua tribulação,
que é o caminho para ti mesmo?
Mostra-me, então, teu direito e tua força para fazê-lo"

Nietzsche, Assim falou Zaratustra (Do caminho do criador)

terça-feira, 2 de março de 2010

Still Here



Alô, caros leitores - tem alguém aí? - eu só passei para avisar que não, eu não abandonei completamente meu blog em 2010; mas minhas férias desse ano foram uma mistura de trabalho (sem brincadeira) com álcool, então eu passei uma grande parte do meu tempo ocioso me recuperando de um dos dois, - ou o cérebro ou o fígado - e o blog ficou meio que esquecido. Mas não temam! Todo carnaval tem seu fim e agora o ano de verdade começou. (será?)

Eu não tenho nada demais para escrever hoje, particularmente. São Paulo chovendo como sempre,e eu preciso de inspiração para dar o 'sprint' final da minha pós em Cinema; então vou  me poupar o trabalho de hoje, fazer um tereré e postar aqui os primeiros parágrafos do meu artigo sobre 'Crossmedia', esperando que com essa atitude preguiçosa eu consiga retirar a poeira e as teias de aranha do Ceriblog hahaha 




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""O tom avermelhado, que preenchia os céus enquanto o sol se punha por entre as montanhas, refletia a urgência que pairava no ar daquela pequena cidade no começo do outono. O cenário, com o barulho das folhas livres levadas pelo vento para longe das árvores seminuas, e que outrora inspiraria um sentimento bucólico no coração de qualquer transeunte, era visto agora apenas como desolador; como se a terra infértil e os pobres habitantes daquele pequeno pedaço do planeta tivessem sido completamente esquecidos por Deus. O fim havia chegado. 

Imerso em seus pensamentos, sentado em sua varanda, na cadeira de balanços - sua velha, desgastada e barulhenta companheira de tantos finais de tarde – encontrava-se um homem. Ele respirava profundamente, a ponto de inalar quase que por completo a fumaça do seu charuto, já metade gasto; fazia isso como se, de alguma forma, tentasse aproveitar toda a essência desperdiçada em seu famigerado passado. Como se esse último charuto compensasse os tantos outros cigarros, tragados tão apressadamente. Sua barba malfeita e seus olhos, negros como a noite, aparentavam serenidade em meio ao turbilhão dos acontecimentos: “uma coisa de cada vez, John” - pensava consigo mesmo - “uma coisa de cada vez.” – isso era tudo que ele conseguia pensar enquanto limpava a poeira dos canos de sua espingarda de caça.  

- Somos todos pecadores, e esse é o nosso castigo – o discurso ecoava por entre as paredes da capela de madeira, e um silêncio sepulcral imperava no pequeno salão onde se aglomeravam mulheres, velhos e crianças. Todos ouvindo atentamente as palavras do homem, que aparentava um tom profético, em sua frente – O demônio finalmente chegou, e chegou nas ondas de nossos rádios! Agora ele veio para buscar as almas impuras e pecadoras de nosso mundo! Mas não temam, pois o Senhor irá proteger os verdadeiros missionários da Fé. Nada mais nos resta, agora só devemos esperar a redenção de nossos pecados... – Após este breve discurso, o silêncio continuou, só sendo interrompido algumas vezes pelo murmúrio do choro das crianças.  

A alguns quilômetros da antiga capela, um carro disparava em alta velocidade pela deserta North Cascades Highway - “Eu preciso escapar.” – e isso era tudo que o jovem pensava enquanto pisava firmemente no acelerador. Ele nunca poderia imaginar, algumas horas atrás, de que estaria fugindo pela sua vida nesse exato momento. Agora não existiam mais dúvidas do eminente Apocalipse; a explosão magnética fez a terra tremer, a cidade inteira estava sem luz e todos os telefones não emitiam nada, além de uma aterrorizante estática. A rodovia se estendia até a Methow Valley Highway, que ligava todo o sul do país. “Quanto mais ao sul, melhor. Quanto mais longe daqui, melhor.” – dizia a intuição do rapaz de 20 e poucos anos. Ao longe, o único contraste com a imensidão vazia de natureza arbórea da região era um solitário posto de gasolina. “Droga, preciso parar para abastecer.” 

O frentista do único posto da região não estava acostumado com uma situação dessas; o seu pacato final de tarde foi interrompido por um carro que entrou em disparada direto para as bombas de gasolina. Um jovem apressado desceu dele e começou a abastecer imediatamente; sentindo um desconforto pela situação, o frentista correu até o local, mas já era tarde demais. O jovem, com o tanque cheio, entrou no carro e deu a partida. “Ei, você vai ter que pagar por isso!” foi tudo o que o frentista conseguiu dizer antes de ouvir a estranha resposta do homem dentro do carro: “Isso não importa mais! Daqui a pouco estaremos todos mortos!”. O frentista parou, refletindo por um momento: “Mas de que diabos ele está falando?”.... ""

abraços!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Wyatt






 "They flee from me that sometime did me seek
With naked foot stalking in my chamber.
I have seen them gentle tame and meek
That now are wild and do not remember
That sometime they put themselves in danger
To take bread at my hand; and now they range
Busily seeking with a continual change.


Thanked be fortune, it hath been otherwise
Twenty times better; but once in special,
In thin array after a pleasant guise,
When her loose gown from her shoulders did fall,
And she me caught in her arms long and small;
And therewithal sweetly did me kiss,
And softly said, Dear heart, how like you this?


It was no dream, I lay broad waking.
But all is turned thorough my gentleness
Into a strange fashion of forsaking;
And I have leave to go of her goodness
And she also to use newfangleness.
But since that I so kindely am served,
                        I would fain know what she hath deserved."

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Nada elementar, meu caro Deleuze...





 "Um livro de Filosofia deve ser, por um lado, um tipo muito particular de romance policial e, por outro, uma espécie de ficção científica. Por romance policial, queremos dizer que os conceitos devem intervir, com uma zona de presença, para resolver uma situação local. Modificam-se os problemas. Têm esferas de influência que, como veremos, se exercem em relação a 'dramas' e por meio de uma certa 'crueldade'. Devem ter uma coerência entre si, mas tal coerência não deve vir deles. Devem receber sua coerência de outro lugar." (DELEUZE, Diferença e Repetição, p.17)




Diante da intrigante relação do Cinema com a natureza da Arte em Deleuze, e dada à perspectiva de que a obra deste filósofo é tão abrangente e complexa que parece que em certo ponto desdobra-se sobre si mesma, - feito um holograma que contém em suas partes o seu todo e vice-versa - faz-se importante uma constante releitura de Deleuze não apenas para desvendar o verdadeiro significado de suas afirmações filosóficas; para além disso, a filosofia deleuziana surge como sendo um dos exemplos do pensamento contemporâneo. Os antigos problemas confrontam-se agora com o novo homem, e a ruptura causada por esta colisão, que é profundamente estudada por Deleuze em seus textos, é única e intransferível – somos todos nós, homens modernos, resultado do incompreensível[1].
 

Nessa perspectiva, é fundamental para o estudo da filosofia na contemporaneidade – seja em Deleuze ou em qualquer outro autor – um aprofundamento que vislumbre a intrincada rede que surge com a complexidade do pensamento; precisamos aprender a navegar diante do dilúvio de informações, referências e teorias filosóficas, sem sermos arrastados pela ilusão de comodidade no canto das sereias de outrora. Acredito que Deleuze, ao auferir a algo moderno como o Cinema uma qualidade que o faz permear os problemas fundamentais de seu pensamento, nos deixa um exemplo do que é a verdadeira reflexão filosófica; um fruto histórico-temporal, que por essa mesma razão transforma-se em algo atemporal e humano. Uma obra sempre inacabada e, por esta mesma razão, sempre continuada...



1 - Acredito que o sentimento do homem moderno possa ser exemplificado com uma passagem de Dostoyevski: “Jamais consegui nada, nem mesmo me tornar malvado; não consegui ser belo, nem mau, nem canalha, nem herói, nem mesmo um inseto. E agora, termino a existência no meu cantinho, onde tento piedosamente me consolar, aliás, sem sucesso, dizendo-me que um homem inteligente não consegue nunca se tornar alguma coisa, e que só o imbecil triunfa.”